quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Dia iraniano em vidinha nouvelle vague


Citei ainda ontem o Drummond como paliativo para o meu atual bloqueio literário. Estou sem conseguir escrever nada. E eu que quero tanto escrever algo. Por necessidade e pela própria falta dela, por desatenção e por ansiedade, aqui arbitro minha incapacidade com as palavras. Sai-te vazio desgraçado. Salta as amarras de teu encosto e pulas cá dessa alma. Pensei, quando acordei, em escrever qualquer coisa sobre o dia de hoje. Mas hoje não passou senão de um filme iraniano. Um tédio e eu não entendi foi nada. Mas se me perguntas qualquer reflexão do dia de hoje, é uma ânsia afinal pelo que não sei se chega. Pedaço de pedra sem historia. Pus-me a refletir, e sabe do que, penso que isso é tipo coisa que tem necessidade própria, impõem movimento, a contrapelo, por contrapeso, de qualquer que fosse a vontade inconsciente. Mas do que? Pus-me a refletir. As coisas andam inconseqüentes, nada revelam, nada tramam, fábula tranqüila. Tédio iraniano. Percebo que não percebo qualquer leve movimento pra movimentos intranqüilos. E nada está em minhas mãos. Ops.

Mas é que tenho pavor de retrospectivas, filmes se repetindo de um ano pavoroso. Credo! O dia era o elemento pra um texto. O ano, bem o ano guardo-o em um buraco sem fim, desses que não se vê em filmes iranianos pra meu desagrado. E vejam caros leitores, se todo o texto não se tornou confuso, pequeno, mesquinho. Confesso estou um pavor na literatura. Ah, é como tenho sempre dito, meus queridinhos, essa hedionda madrasta, leia-se a literatura, um dia me mata!


PS: É que é justo acabar o ano com a minha última e recente paixão em arte, Henri Cartier Bresson. Pela Genialidade, pelo não uso do flash, pelo charme do preto e branco, e da rigorosa composição de imagem.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Palavra amor


Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda a razão (é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem
remissão de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra.
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na terra.
Não a pronuncie.


[Carlos Drummond de Andrade, "o seu santo nome", em Corpo (1984)].


PS: Mais um pouco de Brensson, pra acabar o ano em P&B.

sábado, 27 de novembro de 2010

Se um dia de chuva eu for e de cara com o inevitável dia azul me deparar


Quem diz que não regressa de uma morte?
E em queda? Quem cai com a manteiga pra cima?
E as asas do inevitável nunca se abrem em vôo de queda!
Aceita o convite do vago.
O solo do infinito é um passo.
Lisonjeios enchem o vão
Um baque
Um sonho
Uma queda
De um vôo alto.
Inevitável a morte regressar
A manteiga e o convite.
É só um passo,
Sim, eu aceito.


PS: Zurich, 1966, Henry cartier Bresson.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Do caderno de anotações nº10


E essa noite que não acaba...

Você principiou a noite já alta com essa conversa inquieta irrompendo o frio cálido.

Sabe Helano, você se tornou meu grande amigo nos últimos dias de inverno. Você sabia que a primavera já chegou? E o correio de noticias andou de folga. Sabe meu amigo, a trepadeira do meu jardim está florida de brinco de princesa. Parecia sonho ela na minha janela. Parece flor de pintura. Leve, doce e suave.

Andei pensando sobre o pecado e o puritanismo envolvendo. Existem dois tipos de pecados, o pecado pra dentro e o pecado para fora. O primeiro são as nossas desqualificações morais, o egoísmo, o orgulho, a vaidade, não são armas contra os outros, só nos ferem, se é que é passível de ferimentos quem os reconhece e os incorporam a si mesmo pela fatalidade de serem inevitáveis ao próprio caráter. Você me compreende não é? Peca como eu assim, com pecado de dentro. Há os pecados de fora. Esses são julgáveis até por nós, desclassificáveis e impertinentes. Eles representam alguma coisa como tirar o direito de vida de alguém. Assassinato. Mas você não concorda comigo que privar alguém de liberdade também seja um ato de pecado externo? Você concorda? E são tudo tolices... Do que digo talvez nada seja realmente aproveitável, ou talvez não. Helano, e você, concorda que o amor só dura em liberdade? Essa frase de botequim, ou será de caminhão não me deixou a mente nos últimos instantes. Sabe Helano, acho que vivemos na mediocridade de um espírito inibidor de nossos talentos. Penso em me trancar no quarto por quarenta dias e escrever um livro. Um amigo mencionou Dostoievski e um jogador. Banalidades a parte não quero escrever merda! Acreditas que a literatura e nós já temos encontro marcado? Não és piegas, nem o sou eu. Mas andamos as cegas com ela... Dize-me cá baixinho, concorda com o Llosa que nós escritores vivemos duma atividade quase clandestina? Ando pensando muito nisso. Pensando em descobrir um caminho para o talento. Florius nos rechaçou, para descobrir o caminho para o talento é preciso ter talento. Juro que ele disse! Eu? Ri. Que mas resposta digna posso dar a esse pateta? E sim, meu bem, ando lendo o Tchekhov, deixo a nós uma frase dele, para estimular a nossa maior aventura, a literatura. “Um escritor deve ser tão objetivo quanto um químico”. Talvez tolice dita por quem jamais chegou a Tolstoi.


PS: Bresson, Liverpool.


sábado, 9 de outubro de 2010

Dos amores muito rápidos


A pergunta é: você já amou alguém que viu pela primeira vez num lugar inusitado, onde provavelmente os amores não vão acontecer e onde naturalmente eles não são possíveis? Não. É realmente e possivelmente a resposta de todos os meus caros leitores. Não vivemos dentro do filme closer. Digo isso infelizmente. Porque ando sempre a me imaginar no papel emocionalmente instável da Natalie Portman. Cenas de amores inesperados e imprevisíveis não saem da tela de cinema pra ganhar a imensidão na projeção das nossas vidas.

Mas comigo aconteceu.

Vick Cristina Barcelona, eu era a Maria Helena. Louca, inconseqüente, temperamental e doce.

Encontramos-nos na bilheteria do MASP, em recente viagem a São Paulo, impressionante e fascinante Sampa do Caetano. Eu na elegância discreta não das moças paulistanas, mas das meninas pernambucanas, entrei como quem entra sem bater, sem anunciar, com a intensidade de quem simplesmente decide ser feliz sempre. Ele sim era um deselegante rapaz paulistano, molambento, engonçado e despretensioso. É, ele tinha uma leve graça na despretensão do seu andar gingado. E sua calça branca amassada, sua camiseta verde e suas sandálias havaianas atraiu os olhares da elegante moça. Que sabia sorrir pra acentuar as covinhas e mover os olhos quando entrava em liça para a conquista. Uma pergunta, um sorriso, um menear leve da cabeleira negra, um passo a frente, ela parece que deixou o rapaz a suspirar.

Exposição alemã. Pintura contemporânea. Se não neste tempo. Eu gostei de Richter, ele de Etiel. Mas nos agradamos em comum da arte neo rauch, com o que há de melhor na Alemanha depois da queda do muro de Berlim, ele quem me explicou. Era a pintura resistindo a impermanência de uma época tomada pelo virtual. Mas ele criticou a arte contemporânea, eu retruquei. Sabe queridos, eu odeio quem fala mal de arte contemporânea. Mas o Daniel tinha um jeito peculiar de discordar. Uma forma de resistir com elegância aos meus questionamentos sobre a própria presença da arte como recriação do tempo instantâneo da pós-modernidade. Ele discutia com maestria e redargüia as minhas analises de forma simples, mas arquitetadas de maneira singular. O primeiro piso do MASP presenciou em cada parede e espaço essa nossa conversa agradável e confesso até curiosa.

Somente no piso superior nos apresentamos. Romantismo, a arte do entusiasmo.

- Você é pernambucana?

- O sotaque! – E sorri.

- Eu já fui à Pernambuco. – ele comentou entre um ar indiferente e uma leve intenção de me impressionar.

- Gostou? E onde tu foi? – eu tentei manter o ar indiferente dele, mas é que sou de gênio naturalmente expansivo.

Ele gostou do meu nome. Eu gostei dos olhos deles. Diante de uma fotografia de Ieda Marques ele me beijou.

“Aqui tudo dá ao pensamento asas, movimentos e dimensões atmosféricas infinitas! Na terra estamos atados a um ponto morto e encerrados no círculo estreito de uma situação... Alma minha, como te encontrarás quando saíres deste mundo?” Herder.

O Daniel foi um amorzinho que nasceu dentro dos espaços fascinantes do MASP e viveu para morrer num baquinho sob um ipê roxo do Parque Trianon. Ele tinha os olhos de menino, escuros e remansosos, um cabelo quase claro e um sorriso que me encantou. Uma voz firme como quem sinaliza uma intenção de dominar, até a forma de me levar a seu corpo refletia essa postura. E seus beijos tinham o sabor de aventura, de mistério e de um colorido frio na barriga. Eu amei o Daniel naquela única tarde nos ares do MASP, naquela aventura displicente e galanteadora de quem sabe viver uma embriaguês em que se desconhecia. Eu amei o Daniel por amar mais a mim naquela tarde. Como se fosse tudo tão intenso capaz de romper todos os diques da minha sanidade.

Debaixo do ipê roxo, eu e ele esperávamos a chuva passar, abraçados, sabendo inevitável o adeus. A chuva não passava. Eu só queria uma aventura, descobri um amorzinho. Ele viveu o tempo que nasceu, e na fatalidade do amor soube ser o melhor.

Diz, quem é maior que o amor?
Me abraça forte agora, que é chegada a nossa hora
Vem, vamos além
Vão dizer, que a vida é passageira
Sem notar que a nossa estrela vai cair*


PS: Para o Daniel por ter feito a minha tarde no MASP ser mágica e encantadora, como se fosse um filme.

PS2: Bresson.

PS3: * Conversa de botas batidas, Los Hermanos.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010


Encontrei essa semana uma amiga de minha mãe de longa data. Ela de primeira não me reconheceu, os cabelos mais longos, o rosto corado, ou talvez os braços mais roliços que os da minha meninice, a imagem que ela guardava de mim, não indicaram a ela quem eu era inicialmente. Mas por fim, olhando o sorriso de covinhas ela reconheceu. Ela é vizinha de uma ex-grande amiga minha. Se você me perguntar como as grandes amigas deixam de ser grandes amigas eu nunca vou saber responder. Porque entre nós nunca houve brigas, nem desentendimentos ou quiçá discordâncias. Éramos muito amigas. Sabe éramos eu e ela e ela e eu.

Nunca me diverti tanto com uma amiga como nos nossos recreios do colégio. Riamos pelas menores bobagens, riamos de felicidade mesmo. Pensando bem, naquela época não tínhamos problemas algum e vivíamos numa doce e simpática boêmia de menina. Vivíamos escutando música boa, lendo romances brasileiros, recitando versos do camões ou então, o que era mais divertido, comentando com veia humorística, digo, com bastante veia humorística gentes e costumes da nossa cidade. Éramos impar em imitações, ninguém imitava o Alex tão bem como eu, e ninguém imitava a Raquel como ela. Eu e ela nunca fomos desses gênios dado à apreensões e vivíamos muito tranquilinhas.

Nunca me ocasionou a idéia de que os grandes amigos deixam de ser grandes quando nos deparamos com as searas da vida. Parece triste pensar que a distância, os caminhos, os amores, desamores e dissabores sempre nos levam a trajetos diferentes. Eu e ela sempre moramos nos mesmo lugares, tivemos os mesmos amigos, os mesmos sonhos. Éramos atrevidinhas, alegres e tínhamos uma forma muitíssimo parecida de encarar a vida. Mas sem saber por que nos separamos. Romperam-se os laços e na memória restou só a lembrança dentro de uma frescura verde e cordial.

Escrevo lembrando o dia em que fugimos da condução e ganhamos o mundo. Acho que tínhamos quatro anos de idade. Lembro de correr o mais rápido que pude abraçando a liberdade, desejando asas na inocência de Ícaro. Parecia aventura de caráter novelesco até uma bruxa má chamada tia Fátima nos agarrar com suas mãos de unhas vermelhas marcando com ferocidade nossos bracinhos de porcelana magra. Eu agora penso que deve ser por causa das unhas vermelhas de tia Fátima que nunca gostei de pintar as minhas com essa cor.

Sabe minha querida, eu nunca te disse isso, mas eu sinto muito a sua falta. Se eu pudesse voltar no tempo e reviver as coisas mais uma vez, eu tinha me lembrado de construir uma ponte de minha casa a sua para nunca esquecer o caminho que nos uniu. E de não desmarcar aquele dia em que marcamos de tomar um café. Foi há quanto tempo mesmo? Um ano? Não, acho que foi há dois anos. Me dói a evidencia de saber que não mais voltarei a viver essa amizade, são as distancias da vida. E isso é normal, é só que eu estou lamentosa. Eu queria poder te abraçar e te dizer palavras de muita força que talvez eu mesma não tenha. Mas esse era o meu desejo.

Soube pela amiga da minha mãe que a tua mãe se foi. Sabe querida, eu nunca te disse, mas eu sempre acho que as mães não deveriam morrer nunca. A vida fica meio como rua sem poste de luz. Eu acho que as mães não conhecem o brilho triste que deixam nos olhos dos filhos quando partem. E esse brilho triste dói. Sempre em mim causa um aperto no coração.

Eu queria minha querida segurar a tua mão, dar um abraço bem apertado e um sorriso dentro do silêncio desse momento. E se a distancia me impede deixo-te essa carta e um pedido de desculpas por não estar contigo nesse momento.

sábado, 2 de outubro de 2010

E ela voltou como quem volta de uma vida


A cidade vai se indo,

A luz de vez em outra aparece lá longe, numa casinha velha

E a lua iluminando as estradas tortas.

O cheiro perfumado de jasmim.

E a cidade se afastando

E a simplicidade no nascer do dia

Lá vem chegando a simpatia

Pequena a casinha

Aconchegante é a cama em que durmo

De barro vermelho o chão que eu piso

Café ta quente no fogo

E água limpa na pia

Pão e ovo, leite com nata

Sorriso largo na boca

Sinceridade no bom dia

Busquei felicidade

E encontrei na simplicidade de minha casa.


PS: Van Gogh, Cotage.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Do Helano


Queridinha

Escrevo para consolar sua preocupações, que são tantas, não por desejar falar com alguém, e também porque estou preocupado com você. Suas cartas andam revelando tanta decepção, tanta tristeza, andam magoando você queridinha? Você vai me responder que não, que ninguém pode magoar o outro sem que a própria pessoa deixe. Sabe Laura, você deveria deixar de ser essa partícula se de indeterminação, de ao verbo um sujeito! E dê a ele a merecida culpa. Mas você não há de fazer isso, que tolo é o meu conselho, eu conheço muito bem você, sua elegância de carater, a dignidade assumida por você diante das situações adversas e a inacreditável nobreza de seu coração. Você chorou não foi? Eu pressenti.

Eu poderia dizer a você minha querida, cabeçuda e teimosa Laura, que protegesse seu coração, mas você não me escutaria não é? Não sei ainda a sua mania de perdoar tudo. E sua detestável mania de se achar forte o suficiente, capaz o suficiente de suportar todas as dores do mundo. As vezes minha querida, a gente não deve perdoar, esquecer sim, e acredite perdoar e esquecer não estão interlgados, quem o diz é poeta, ou é cristão, são todos tolos minha querida, todos tolos.

O Florius me escreveu, não está gostando de seus textos, você também não, nem eu. Está lhe faltando alma, e sem alma seus textos não passam vida, eles não pulsam. Para onde está canalizando suas emoções minha branca? Rio anda seco no sertão a fora. E o florius que não volta? E o nino que sumiu? E Sofis? Onde anda sofis? Parafraseando o Vinicius, a vida é arte do encontro, embora, haja tanto desencontro pela vida.

Minha pororoquinha branca, é você é uma pororoca que adentra impetuosa pela vida, arrastando velhas opiniões, verdades construídas, destruindo beleza, revirando o mundo dos outros sem fazer silêncio, você assusta queridinha toda a sobriedade de um mundo real inventado. Engraçado é teres encontrado um outro par. É impressionante. Mas pororoca não é o encontro de dois rios?

Mas vamos falar de mim, enfastiei-me de ver-te sofrer. Vou fazer-te rir de meu desespero. Hoje me dei conta da idade que tenho. E o que tenho eu? Um apartamento sem mobília, sabes que ainda me cortaram a luz ? Minha ex-mulher, a Tereza Arcadievna (como se me fosse permitido ter outra esposa) me odeia e seu maior desejo é me ver na cadeia. Um filho que descobri que não é meu. Todos os bolsos da roupa vazios, não tenho um centavo pra pagar a puta mais barata do mercado. E por ironia eu ainda sou um filho da puta. E a única coisa que espera é a morte. Ninguém se importa comigo, a não ser você minha amiguinha. Eu Estou odiando a minha vida! E sabe o que acho dessa vida desprezível? Vou deixar de ser escritor, deixar de escrever romances épicos e canalizar meu talento- se é que tenho algum- para algo que pague a porra de minha conta. Parece minha flor, que só existe dor e desespero aguardando por nós na próxima esquina, especialmente por mim., porque se há Deus, queridinha, ele me odeia. Mas tanto melhor, que a recíproca torna-se verdadeira. Sou o escritor mais desafortunado dessa vida, escrevi quatro longos romances desde 2008 e nenhum deles foi aceito. E então queidinha, mato-me antes ou depois desse espasmo proustiano carregado em benzendrina?

Minha pororoquinha branca queria você aqui, tomar café com rosquinha no café colombo, como nos tempos antigos. Ter a segurança dos seus abraços e seus olhos a me amar.

Perdoe-me o desabafo, e a preocupação que estou te dando, é porque queridinha, eu também não ando muito satisfeito com o rumo das coisas. Escreve-me uma poesia sim? Ou qualquer coisa que me deixe feliz. Salve-me dessa saudade sem socorro.

Ps: Gostod e saber que você ainda se recusa a admitir que amar é sofrer.



Amo-te,
Teu sempre e insatisfeito amigo
Helano



PS: Degas. Ao som de Luz antiga, Ana Canãs.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Desabafo de dias atrás


Mas é que as lembranças são confissões de uma covardia irremediável. Ando confabulando fugas ao longo do dia. Fuga dos livros, das paisagens comuns, do meu coração e de uma verdade não dita. Procuro calculadamente distanciar-me do ponto em que sou sempre lançada a abstrações abismais sobre a vida que ando levando.




PS: A arte de Fuco Ueda é uma mistura de surrealismo, sensualidade e um toque etéreo que a diferencia de qualquer outro artista japonês em ascensão. Seus temas são constantes e não cansam seus admiradores. Usa figuras femininas num universo onírico onde uma gama de sentimentos é representando pelas suas cores fortes e pelos seus gestos


PS2: Música Luz antiga, Ana Canãs.

sábado, 14 de agosto de 2010

Porque é sempre eu e ela.


Às vezes eu me pergunto como duas pessoa tão diferentes podem se identificar tanto
Como gênios tão opostos podem se assemelhar tanto
Por que eu olho pra você e me vejo

Nas covinhas, no jeito de colocar o cabelo atrás da orelha, e de virar a cabeça com timidez e de sorrir de uma forma doce que só nós sabemos como.
Por que eu escuto você e me ouço?

Na sua voz de menininha, a mesma nossa voz no telefone, a mesma firmeza na voz, as mesmas fortes opiniões ditas por mim também são tuas.

Talvez porque só você ature meu mau humor,
Ou talvez porque você veja o meu melhor lado.
Mas, sobretudo, porque não hesita em me sugerir grande (ou pequena) mudança.
Ou será por que superamos juntas nossos problemas, rindo juntas deles.

Rindo muito deles.
Ou porque a gente canta e dança juntas, na maior bobeira.
Porque nós éramos meninas bobas
E agora somos mulheres mais bobas que antes.
Ou porque você me ensina o que quis dizer Quintana
Com "eles passarão e eu passarinho"
Ou porque eu te ensino que deve haver uma taxa de desemprego natural para que não ocorra inflação.
Porque eu escrevo livros e você poesia.
Porque eu faço economia e historia e você letras.
Porque você é tão louca quanto eu e adora isso.

Porque gostamos de gatos, de livros, de Vinícius, do Chico e Dostoievsky.

Porque sabemos que a nossa ligação não é natural é paranormal.

Que eu sou Dinah e você Estela.

Porque eu sou sua luz e você meu céu azul.

O planeta e o gira sol.

E que a nossa ligação é de vidas passadas, uma só desce se a outra descer.

Porque a gente se ama da forma mais verdadeira e sincera que existe.

Porque se brincar eu amo mais ela e ela a mim do que a nossos pais.
Porque não precisa de código morse

Nem telefone

Nem sinal de fogo,

Nossa telepatia basta.

É amor ad infinitum.



PS:Renoir, porque desde sempre foi nós duas.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O gato


Descobri um site muito bonitinho que ajuda gatinhos abandonados a encontrar um lar carinhoso e uma família para amar. E fiquei realmente muito triste quando vi as maldades que as pessoas são capazes de fazer aos animais indefesos e inocentes. Sabe, quando eu era menininha eu tinha um sonho bem grande, e ele era ter um gatinho igual aos da casa da minha avó. Não que eu fosse uma criança sem animais de estimação, isso lá não é uma verdade, minha mãezinha gostava de animais exóticos e digamos ainda não domésticos como jacarés (o Lucrécio), caranguejeiras (Clotilde e Mendonça), cobras e outros fofinhos e mais discretos como tartarugas, cágados, gafanhotos, preá, coelhos. Eu lembro uma vez que a minha mãe tinha uma coleção de soldadinhos, era para um estudo de caso, e eu e meu irmão vivíamos brincando com eles num ambiente tão alegre e cordial que jamais imaginaria viver sem ser dessa forma. Tínhamos dois cachorros bem lindos e felpudos um branco e um preto chamados originalmente de branquinho e neguinho, o engraçado é que eles dois acompanharam a inocência da minha infância. E branquinho ainda me vingou das impertinências de uma prima mais nova e chata mordendo-lhe bem na bunda enquanto eu só fazia rir, toda vez que eu lembro essa história eu sorrio com a ingenuidade com que ri dessa malvadeza (segundo vovó Rosa) feita contra a pobrezinha.

Mas que adiantava ter uma fauna de floresta tropical em casa se eu não tinha um gatinho. Uma vez meu pai trouxe pra casa uma caixa furada, mas eu pulei, eu dancei tanto e fiquei tão feliz que eu ainda hoje posso sentir essa felicidade correr entre meu corpo. Uma caixa furada era indicio de gatinhos (ao menos pra mim). Eu achava que vovó Ivonete tinha mandado um gatinho pra mim. Mas qual nada! Era uma galinha! As crianças nem gostam assim de galinhas, elas são feias, que me desculpem as galinhas, porque não será pela sua sensibilidade que deixarei de ser franca em minha vida. Nem os humanos obtêm essa façanha. Só os gatos! E digo, eu chorei quando eu vi a galinha, senti um amarguinho de decepção.

Daí se seguiu tantos animais em minha vida, criamos até minhoca. Mas o primeiro gato, ah disso eu me recordo bem. Na verdade ele não era um gato bebê, nem brincalhão, nem gostava de fazer estripulias, nem saltava, nem dançava. Ele era um gato homenzinho, segundo minha mãe, ele havia sido muito maltratado. Minha mãe adotou o Natanael, esse era o nome dele, depois que uma vizinha bruxa malvada jogou água fervente nele. Acho que foi a maior maldade feita a um animal quando eu era pequena. Mas, a minha mãe que é muito boazinha tratou de cuidar dele e enche-lo de mimos. Só que Natanael era um gato homenzinho e brabo, e ele nem gostava assim de crianças, por isso minha mãe disse a mim e aos meus irmãos que eu não poderia brincar com ele. Sabe gente, é muito triste ter um gato e não brincar com ele, é muito triste ter um gato e não querer apertá-lo nos seus braços até ele soltar aquele miado bonitinho e indefeso.

Depois ganhamos uma gata tão linda, tão linda, tão impressionantemente linda, que colocamos o nome dela de Sabrina, ah essa era uma gatinha bebê muito fofinha e querida. Depois de um mês descobrimos que a nossa “gatinha” era um gato, e resolvemos chamá-lo de Sabrino depois de termos rido bastante da pequena confusão do pobrezinho.

Depois desses dois primeiros gatos em nossas vidas sucederam-se tantos outros mais, inesquecíveis achados na rua (Monet, Renoir, Mozart), cegos (minha melzinha), Kiki (a melhor mãe do mundo), Pitanga, Açucena, Said, Tom, Cléo, Dora, Vidigal, Bento.

Os gatos deste site Adote são lindos e tem histórias de abandono e agressões. E histórias chocantes como a do gatinho Rock que teve os olhos perfurados e o maxilar quebrados por crianças, e outras como a duquesa que foi amarrada no saco e espancada. Ainda tem gente que adota os gatos e depois coloca na rua, sabia que gato também morre de tristeza causada pela rejeição? Isso é realmente muito cruel! Onde cabe tanta maldade? Como se pode maquinar dessa forma contra alguém? É nessas horas que agradeço a minha família por ter me dado decência e consciência para saber que devo respeitar todos a minha volta, inclusive animais, porque eles também são gente! Acredito sempre nas energias daquilo que a gente espalha. Boas ações, bons sentimentos, boas intenções, bons pensamentos retornam somente em coisas boas. Eu tenho uma gata branquinha e braba feito eu, que só aceita carinho quando ela quer, e que não me pode ver lendo na cama que ela sempre se deita sobre as páginas do livro, só pra chamar minha atenção. Eu tenho um gato grudento que adora carinho e que fica chorando quando a gente não coloca ele no braço e dá beijinho. Eu tenho uma gata dourada que me faz achar que o dia é sempre lindo quando ela se espreguiça. Eu tenho um gato com o fêmur quebrado que dá vontade de apertar no braço como se fosse sagrado, e quando ele tava com saúde ele ia me buscar na parada. Eu amo os meus gatos, cuido deles e eles cuidam de mim.

p.S: O projeto Adote Um Gatinho começou em 2003, com a Susan Yamamoto e a Juliana Bussab, em 2007 virou ONG e hoje possui cerca de 40 voluntários. A Adote acolhe gatos abandonados (muitas vezes, extremamente maltratados!), trata, vacina, castra e os coloca pra adoção. Mais de 3.300 gatos ganharam família através da ONG. WWW.adoteumgatinho.uol.com.br

PS2: Mulher com um gato, 1875, Renoir.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A pitangueira




O Florius às vezes me diz frases únicas de presente. Ele gosta do meu arrebatamento e da minha intranqüilidade. Dia desses disse que o amor era uma verdade efêmera. Ficamos batendo nesse dia um bom papo no banco da praça. Ele falava um tempão sobre as estrelas, o mar e os meus olhos. E o Florius que quase nunca olha pro céu. Ele prefere olhar pro chão. Ver que tudo é sóbrio. Ele olha as pisadas dos fantasmas que não ousaram. E sua música preferida é o mundo é um moinho do Cartola. Nunca esqueço Florius se sujando de algodão doce. Ele não sabe comer algodão doce. Acho que eu era antigamente meio apaixonada por ele e não sabia. Era uma forma de me envolver num olhar tão carinhoso, numa admiração muda de quem se descobre observada e simplesmente sorri vermelha de vergonha. Teve um dia de setembro e já o inverno ingrato tinha ido embora, levei-lhe uma cesta de pitangas que comemos deliciados na sua nova casa dentro de uma frescura verde e cordial, guardamos as sementes para plantar depois no quintal perto do muro. Sabe, deveria ser proibido que os grandes amigos nossos fossem morar tão longe. Eu sinto falta do Florius aqui. E o pé de pitanga anda florido.


PS: Rising Road, 1881 Gustave Caillebotte.

sábado, 31 de julho de 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Quando um anjo morre



Eu não deixo nunca de me perguntar, perscrutando cada fenda de meu coração, procurando em cada canto dele desabitado se um dia em minha vida vou poder viver sem morar em Bonança. É qualquer coisa de pitoresco, de ingênuas pinturas naturais, e há tanta vida nessa vida calma, quase bocejante, nessa ternura que embala seus moradores, como afago de mãe. Minha história anda escrita nas suas ruas.

Hoje mesmo, precisei ir à rua, comprar fubá para fazer angu. Você já comeu angu de fundo da panela? Não, pois precisa provar. Aprendi a comer aqui em Bonança. E engraçado, os meninos que brincam em frente a minha casa, é quase um pequeno batalhão de meninos bobos, caneludos e felizes, não faziam a balbúrdia sagrada de todos os dias. Não bateram palmas na minha casa pedindo: ô dona Laura, a senhora pode pegar a bola que caiu no seu quintal? Nem ficaram papeando sobre as meninas, sentados no meio fio debaixo da minha figueira. Nem cantaram músicas num inglês pra nenhum inglês ver. Havia silencio. E, confesso, muita melancolia, porque esses meninos enchem a rua de uma alegria que contagia. Uma rua sem crianças brincando no fim da tarde é uma rua morta. Eu só ouvia as cigarras a cantar de tardinha.

E fui seguindo a diante, pela rua de seu Brito, que estava no muro do vizinho conversando. E quanto mais proximo do mercadinho eu chegava mais via a rua apinhada de gente, com suas vozes e o colorido de suas roupas de dias especiais. Não, não era um dia especial. No caminho, fui colhendo a história, como se em cada grupo colhesse uma flor pra formar um ramalhete de gérberas no fim. E então eu conheci enfim, o motivo que tirou os meninos lá da rua, as mães com seus filhos pequenos, as velhas senhoras fofoqueiras de seus bancos, o perfume das flores do campo, a algazarra das meninas de bicicleta, tudo isso porque havia morrido um anjinho.

Jandira fechou a sua lojinha de miudezas. Dayse fechou a sua escolinha sempre aberta para a matrícula de novos alunos. O mercado de Manoel só havia cacau, a caixa. Nunca vi o mercadinho de Bonança tão tranqüilo e vazio. A padaria anunciou solicitamente que não haveria pão. Dona nininha não saiu pra conversar com dona. Iraci embaixo da mangueira de Jenniery. O barbeiro não exerceu a sua tácita função. Seu Julio tão pontual nas suas obrigações não deu corda a seus relógios e não abriu a relojoaria. Na farmácia D. Vânia esperava o enterro passar com os olhos cheios de lágrimas, poderia ser um dos seus meninos, dizia. Bonança esperava o enterro passar. Numa secreta gravidade, numa solidariedade muda e solícita aos familiares da criança morta. Era um menino que foi atropelado ontem de tarde. No horário exato em que os meninos de minha rua brincavam de se esconder no quintal da minha casa.

Bonança chorava por um filho seu. E tudo isso me comove e me enternece. E nesses grandes acontecimentos de Bonança eu sempre me pergunto se existe lugar assim igual a esse. Antiquado, discreto e solidário a dor. Há uma certa beleza em seguir rituais tão antiquados, um certo conforto íntimo, uma segurança e uma doçura em saber que existem pessoas que se compadecem com o sofrimento alheio.

E talvez a resposta para as minhas dúvidas sobre ser feliz longe de Bonança esteja tão clara. Mas a pergunta subsiste sempre. É possível ser feliz longe de Bonança?


PS: O filho morto, Cândido Portinari.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Do cinza


O monstro continua dormindo, debaixo da cama, encolhido de frio, mas ele ainda assombra. Só espera eu fechar os olhos para acordar. No quarto da menina sob o pé da figueira, há silencio e pela chuva fininha que cai lá fora, a sombra de um passarinho, voa, sem medo da chuva.

PS. Árvore cinza, 1911, de Modrian. Esse quadro representa seu período simbolista, fundamental para atingir suas obras abstratas.

domingo, 25 de julho de 2010

Do dia em que eu vi ciganos


Era num tempo em que o tempo não se esquece, e as engrenagens da minha vida onde os acontecimentos parecem se repetir me fez voltar a ele. Uma sensação jamais esquecida e que nem mesmo eu pude distinguir com clareza fez minha memória regressar a um passado tão longínquo. Foi num tempo em que eu vi ciganos.

Eu deveria ter ao menos seis anos e minhas lembranças eram sempre pregadas com firmes alinhavos de pontos duplos responsáveis por até hoje eu me recordar com nitidez pequenos acontecimentos que de tão insignificantes deixaram marcas substanciais.

Brincava no terreiro debaixo de um pé de jenipapo que ainda posso sentir o cheiro forte e doce, a frente da casa do engenho uma fogueira quase extinta da noite passada, mas ainda sua fumaça turvava a minha visão. Eu sustentava um galho seco na mão, fazia arabescos com ela no chão, tão absorta nessa atividade, senti apenas de súbito a mão da minha avó agarrando a minha. Arrastou-me para dentro de casa de uma forma quase selvagem enquanto eu me debatia sem saber o motivo de ser eu sua presa. As tias velhas correndo dentro de casa fechando portas e janelas, mas se aboletando atrás delas para expiar pela fresta. Eu ainda tinha coágulos de sol na vista quando eu vi por entre uma fresta, que mal cabia meu dedo mindinho de seis anos de idade, um grupo de ciganos bandoleiros que saíram de dentro da mata que cercava minha casa.

Como eu me recordava com nitidez de duas mulheres bonitas, que se sobressaiam do resto do grupo. Uma delas usava um vivo vestido vermelho. Parecia uma rosa arisca. E a outra, me lembrava os coágulos de soldos meus olhos. Estava de amarelo florescente. Eram os ciganos que passavam por minha porta em dias de lua cheia. Na noite anterior eu havia escutado um barulho longe, e que não incomodou de forma alguma meu sono. Mas me deixou lembranças, o som, as cores, a neblina de fumaça, o cheiro doce e enjoado de jenipapo, e o medo infantil da minha avó e das tias velhas. Depois ouvi a conversa na cozinha sob o som da chaleira bulindo no fogão. Tinham medo de ciganos porque diziam que amargavam as pessoas quando as fitavam. Como se precisasse disso para tornar azedas as minhas tias velhas.

Ontem foi noite de lua cheia. Reencontrei antigas histórias de ciganos na época em que me mudei para Bonança. Há um morro, ainda há uma mata densa, e sempre houve lua cheia, por muitos anos escutei o mesmo som de tambores e pandeiros, a mesma música alegre e doce. E senti o mesmo medo cristão da minha avó e das minhas tias velhas. Só não mais encontrei ciganos.



PS: Portraits country, Gustave Caillebotte. Pintor francês, da escola realista. Seu objetivo era pintar tudo o que via de forma realista, como Degas e compartilhava o comprometimento com a verossimilhança ótica dos impressionistas.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

É que anda contra o vento, desafia o sofrimento e carrega o mundo com a mão


O que você faria se durante em toda a sua vida fosse julgada de forma a ser culpada estando inocente. Como se você fosse acusada e interpretada da forma que você se sabe não ser. Sempre fez frio nos meus pés descalços, deve ser por isso que eu sempre me asseguro de ter meias limpas e felpudas na gaveta. A dureza do coração sempre foi questionada. Não faça isso! Não seja arrogante! Há prepotência nisso e não sei mais naquilo. Se de certa forma o seu valor realmente não fosse conhecido e você lutasse por si mesma sozinha por ideais abstratos. Lutando não sei como pela própria libertação. Há chá de erva cidreira na caixinha verde em cima da mesa. É pra dias de ventania. De três é a do meio. Um deles gosta mais. A outra lhe agrada tanto. De três ainda é a do meio. Há um ventinho que entra pela fresta da janela e encontra a solidão. E se tem gosto de imensidão. Se procura a liberdade. Se conspira o mundo de certa forma a seu favor. Ainda a julga. E as rasteiras que a vida lhe dá. Qual, ela sempre se pergunta. Que de tão grande sucedeu que não tenha olhado pra trás e visto tão miudinho, tão insignificante que no fim até acredita que foi pra seu bem. O baque nunca é grande demais. As forças também nunca se exaurem. Ela sempre se ergue. Como flor do campo. Lírio do campo ou alecrim dourado. De tão teimosa vive. E feliz. Se protege, é por interesse próprio. Se tenta ajudar, há nisso egoísmo. Se elogia, não ela não elogia. Há pior maneira de ser interpretada quando se é vista de forma equivocada? É má! Diz. Mas gosta de todos os animais do mundo, adora crianças e odeia que maltratem os velhinhos. É justa, mesmo que às vezes impiedosa. Luta por menos hipocrisia, isso ela abomina. Gosta da verdade. Gosta de leveza e azul do céu. Ama tanta gente. Às vezes se surpreende. Coração tem. Tem tanto que é passional quase sempre.

Sabe bordar. Cozinha divinamente. Cuida do lar. Sabe costurar. Lava roupa e perfuma com flores. Ler todos os livros do mundo. Sabe recitar. Escreve poesias. Sabe desenhar. Também pintar. É romântica como Eva Braun. De um romantismo sereno e de calmo domínio. Gosta de flores e do lar. É responsável. Acorda cedo. Procura sempre estudar. É formada e falta só trabalhar. Resolve com elegância o dilema da caixa de Egheworth e sabe derivar. Faz compras e feiras, resolve tudo a que se prestar. Mas diz que é manipuladora, autoritária e mal educada. O que ela aprendeu de menina: a lutar pelos seus direitos, a não abaixar a cabeça, possuía a valentia sem freios que a mãe sempre desejou para a sua estirpe. Mas que nela não admitia. Incomodava-a a sua independência. Não gostava da sua liberdade. Mas sempre lhe diz que faz tudo isso pela sua pecaminosa soberba.

Há dias em que não agüenta escutar calada. Há dias que o coração sangra. Há dias que dói saber que você nunca vai agradar porque nunca se espera isso de você. Há dias que você não suporta o eterno complexo de Electra em que saberá viver toda a sua vida. Há dias em que se perde, mas não se abandona.

É um retrato aflito. Confuso. Ferido. Cheio de nós cegos. Tenta. Reinventa. Sorri. Encolhe-se. De vez em quando chora, porque às vezes é preciso colocar as mágoas pra fora. E escreve pra ficar mais leve.

E pensa, pensa muito na vida. Está na hora desse vento aprender a soprar em outra direção. Sugiro um banho de chuva. Um mergulho no mar. E alguém para abraçar.



PS: O mundo de christina, 1948, Andrew Wyeth. Pintor americano realista, seu estilo se destaca pela interpretação realista, pela beleza franca e por uma exatidão quase fotográfica, transmitindo um forte impulso emocional. Suas obras maduras com freqüência possui elementos simbólicos. é um dos pintores norte-americano mais conhecido do século XX. Essa é a sua obra mais importante, sempre desejei expô-la aqui, eis que surgiu o momento.

terça-feira, 20 de julho de 2010

No campo do bem-querer


Sabe ontem quando eu me despedi de você?

Parecia o último encontro de Ilsa e Rick.

Eu que não acredito em amores impossíveis.

Você não conhece Rick loves Ilsa?

Casablanca? Tão famoso...

Vadiava um vento meio sem rumo.

E eu não me sentia tão culpada como antes de chegar.

Porque a culpa faz parte da coisa e você bem sabe.

Eu gostava de estar ali,

Com você, escutando você

E seus abraços me fazendo bem..

E eu pensando sempre,

Eu preciso encontrar alguém

Alguém sempre meu

Que tenha esse olhar teu

Eu te disse que pensei em você o dia todo?

Disse, e você gostou

Gostou como gostou de eu estar te desvendando

Gostou de saber que eu sei de você

É como chegar ao íntimo

Mais tão íntimo como se já fôssemos um

De tão igual que somos

Somos uma par.

Sabe ontem quando eu me despedi de você

Senti um frio na alma

Duma noite qualquer fria

E eu senti uma saudade muito grande

De um bem querer tão bonito e tão limpo

Que parecia filho embalado.


PS: Criador de um estilo inconfundível, aclamado como “o olho do século 20”, Henri Cartier-Bresson (1908-2004) deixou sua marca como um dos mais representativos fotógrafos humanistas da história pela forma como conseguiu mostrar enfaticamente a beleza dos gestos mais simples do homem, ao captar cenas de flagrantes pelas ruas do mundo.

Ps2: “Tirar fotos é prender a respiração quando todas as faculdades convergem para a realidade fugaz. É organizar rigorosamente as formas visuais percebidas para expressar o seu significado. É pôr numa mesma linha de mira a cabeça, o olho e o coração”. Esta frase define como o fotógrafo percebia a vida através do visor.

sábado, 17 de julho de 2010

Recado da primavera


Vadiava um vento meio arredio nessa tarde. Soa sempre engraçado dizer que sai pra comprar chá. Mas era uma tarde até azul. Azul anil. Quase se fez chuva hoje fez. Queria chá de maça verde. E não encontrei. Mas qualquer chá valia a intenção de sair pra prosear na rua. Já não era tarde calma, tranqüila e mítica. Era tarde de férias, inverno chegou e primavera lhe mandou recado de amor. Sossega que dias mais te venho encobrir de amor. A o velho amor bossa-nova chegou. Nessa tarde eu fui comprar chá e se não me recordo, nunca vi tantas crianças de uma vez só na minha ensolarada rua. Uma bola voava por quase entre minhas pernas e se não caí me arrancou um sorriso feliz. Mães e filhos fortes. Flores por todos os jardins. O jasmineiro não floriu. É saudade das conversas dos passarinhos. E por falar em carambolas. Eu gosto de carambola estrela. A moça da padaria não sorriu como já não é novidade. Mas o pão doce continua delicioso. E o queijo estava salgado. Os sapos da rua de baixo coaxavam. Fez-se noite na minha rua. Saem as crianças, entram as estrelas e lua. Não encontrei chá de maça verde. Nem de erva cidreira. Se encontrei, não por brincadeira, foram coisinhas miúdas no meio do caminho, essa eu achei e não procurei. Até gostei das pequenices do cotidiano que em vez de guardar no bolso, a gente leva no coração. Hoje a tarde teve gosto de almoço de domingo. E alegria de festa. E sorriso de criança. E chuva fininha. E foi tudo em um mês de julho.


PS: Da exposição "O Mundo Mágico de Marc Chagall". A Águia e a Coruja.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Notícias ao Nino e a quem mais interessar


Meu amorzinho, o céu hoje está negro. Raras estrelas no abrolhos de fim de tarde, e a lua anda quarto crescente. Mas curioso, o céu está belo. Diz poesia, parece noite de serenata. Tem uma estrela luminosa do lado da lua.

Chamou-me de amorzinho! Está a pensar. Explico-te. É um amor pequeno. Mas que sendo assim, tão miudinho, faz estragos de tufão. Se um dia ele há de se grande? Não possui pretensão o meu amorzinho, se sabe que ainda pode ser a cada instante ainda maior do que já é.

Escrevo-te para que saibas o que ando fazendo da vida assim, aqui, tão longe de você. Ontem caminhando pelo centro vi um ipê rosa, que dá muito por aí. Você provavelmente encontrará em qualquer ruazinha sossegada que você passar. Quase numa transmissão surpreendente (não para nós) você vai procurar nela a suavidade terna que eu admirei.

Já agora te digo numa carreira as novidades da semana. Ando lendo o Gabriel, sabe, meu amorzinho, eu sou uma Buendía, e isso nem parece tão inverossímil assim. Comprei ontem no sebo, Olhai os lírios dos campos, e numa página única lida fiz reviver todo o redemoinho de sentimentos guardados na lembrança. Não sei se os lírios ou o amor sempre possível me enterneceram o coração. Mas senti como se um pedaço de mim voltasse. Estou dando continuidade aos meus estudos das bailarinas de Degas. Bento, o gato felpudo quebrou a pata traseira. O jasmim laranja anda pelado e o jardim das papoulas foi forrado de folhas secas. Já é outono meu bem? Estou pintando um quadro da Tarsila numa bolsa minha (artes, sempre artes). Está ficando uma belezinha. Amanhã recomeço de onde parei A Reunião dos Nossos. Você ainda não me escreveu dizendo o que achou dos trechos que te enviei. És um ingrato!

Ontem me reuni com alguns bons amigos para beber uma garrafada de côco. Sua presença me fez falta. É que sinto saudades do flerte do brilho de seu olhar. Amanhã vou sair com o bloco que me falta um pedaço, leia-se esse pedaço, Dora, não a de Caymmi, mas a de Salgueiro.

Amiudadas vezes ando solitária. Mas de solidão boa. É solidão de poeta. E penso muito em você. Pra não sentir tanto a tua falta quanto você sente a minha, eu ando lavando muita roupa suja (essa foi pra você sorrir, porque você mangou quando eu disse que era essa a minha atividade doméstica preferida). Prometi a você que iria ficar bem. Estou tentando. Sim, ando um pouco triste por tudo, é natural. Saudades de tanta coisa. Minha vida anda agora, meu amorzinho, toda repartida no singular, sem par. Mas ela não deixou de ser um sunshiny day. I can see clearly now.

Meu amorzinho, quanto tempo leva um mês pra passar? E nesse caso, a gente chama saudade ou saudades esse sentimento de incompletude?

Então é isso. Eu amo você. Tão simples dizer.

Sua Laura.


PS1:Eu sou irreconhecível, irrecuperável, desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente em ti, docemente em ti, meu amor. (Rubem Braga)


Ps2: Water serpents, 1907, Klimt.


PS2:

segunda-feira, 12 de julho de 2010

História de um amor randômico que não cabe em romances de amor


Ele me compra com sonho de valsa e sonho de creme.

Ramalhetes de flores. Rosa murcha. Florzinha baldia. Ou cravo de defunto.

Compra-me inteira com despudores. Massagem nos pés. Ménage à trois. Beijo na mão. Conversas ao pé do ouvido. Olhares lascivos. Mordidas no pescoço.

Compra-me com bilhetes sacanas. Bilhetinho amoroso. Abreviado. Cartas de amor.

Convite inesperado para beber. Jantar a dois. Musica bonita por MSN.

Compra-me com saudades anacrônicas.

Desejos randômicos.

Abraços ao luar. Ele me seduz com a lua.

Compra-me dizendo que me ama, sem saber por quê.

Convite pra beber as três da tarde, às duas da manhã, até as dez da noite.

Propõe-me uma fuga num sábado. Praia a dois.

Compra-me com elogios impensados, e bajulados.

É igual a mim. Perfeitamente simétrico. Existe?

Beijo apaixonado. Impulsividade a dois, é loucura atroz.

Mando-lhe um poema perfeito. Ele me compra ignorando.

Empresta-me o chinelo. Depois um trocado. Oferece-me viagem.

Me dá socorro.

Leito de dormir. De sexo depois. Banheira de sais.

Compre-me logo inteira, lhe digo. Disponível. Logo se esgota. Imperdível.


Ps: O passeio, de Marc Chagall. Porque eu ainda sonho com um Chagall na parede de meu quarto.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Porque ainda não é a primavera...


Não era somente porque o desejava. Que lhe queria sentir o corpo sobre si. Nem o roçar macio de sua pele. Mas porque o admirava imensamente. Sofia Bianchi o amava imensamente às escondidas, dentro de seus livros, nas bailarinas de seus quadros, nas suas poesias e antes de dormir. Amava quando ele chegava. Sofria quando ele partia. Se bem que ele quase nunca partia antes dela... Será que ele sentia? Sofia o amava de longe. Dentro de seus olhos de instante, de menino. De menino lírico. Sonhava com os encontros de amanhã. Eles só queriam ficar a sós no instante da eternidade conversando todas as bobagens.

- E se eu morresse?

- A vida perderia as cores.

- E se eu adoecesse?

- Você seria a minha primeira prioridade.

- E se eu achar a tristeza normal?

- Não seria você.

- E se eu viajasse pra longe?

- Eu te buscaria.

- Num prenuncio de despedidas?

- Te abraçaria.

- Em desespero?

- Massagem nos pés.

- Sonho de creme?

- Mousse de chocolate.

- E se você não for meu?

- Eu morro.

Ela amava não tê-lo. Imaginar perdê-lo doía tanto. Era um amor intermitente. Que nascia a cada encontro. Absoluto. Fora das contingências e exigências do momento. Sartre e Simone. Sofia Bianchi o amava. Ele também a amava. A boca dela se acostumou com o sorriso leve. E as cores. O que ela mais gostava era as cores de estar apaixonada. Azul. Lilás. Anil. Brique. Cor de céu de aurora. Cores de Chagall. Ela amava tanto. Tanto que já não cabia nela, e escapava assim pela frestinha como sol de manhã invadindo quarto escuro. Era ele inteiro vazando dentro de Sofia. Em forma de boas ações. De bom dia ao motorista. Frases gentis. Ela amava os cachorros velhinhos. As crianças. A chuva. Algodão doce. O mundo inteiro. E ele. O mundo parecia sonho por causa desse amor. E o mundo poderia viver pra sempre bem.


PS: Amantes ao luar, Marc Chagall. Surrealismo russo. A qualidade cósmica da obra de Chagall nasce da vida cotidiana, por algum tempo, o artista parece esquecer os dramáticos fins e princípios.

PS2: Eu sonhei que tinha um Chagall na parede do meu quarto.

PS3: Para ler ao som de A Primavera de Vivaldi.

domingo, 20 de junho de 2010

Querido Florius



Meu caríssimo amigo, desculpe a ausência. A falta de presença. A total displicência. Desculpe-me querido pelo imenso exercício de egoísmo que tenho demonstrado. Há mais de um mês venho pensando demais em mim, demasiadamente em mim. Diante de tanta indiferença aos outros, não tive tempo de te escrever como merecias. Mas ao menos posso confortar-te e revelar que tenho lido teus textos. Os novos e os antigos. E como sempre, andam me causando um rebuliço na alma. Principalmente um que tanto lembrou-me Proust. A sua imensa busca por algo que já se passou. O que me levou a antigas lembranças do sítio. No fim da tarde o café bulindo na chaleira, o fogo de lenha crepitando. Sem nem saber por que me lembrei daquela música: aí que saudade que eu tenho, das noites de são João... Sei lá. São reminiscências apenas... Fico andando pela casa pensando em retribuir com algumas palavras suas inquietações tão minhas. Fico do quarto para o terraço, conjecturando a grande resposta que aliviará nossos ânimos e satisfará nossos anseios. Porque tanto vazio Florius? O que está acontecendo a nós? E se eu der uma resposta será que ela ajustaria meus interesses a orbita do que eu tenho feito nos últimos dias. A esse nosso grande propósito. A literatura. Às vezes Florius querido, eu me sinto morta. Nada parece realmente valer a pena. Que literatura, querido, eu estou buscando fazer? Tudo me parece tão vazio. Nada parece valer todo o meu esforço, toda a minha abdicação. Nessas horas Florius, meu bem, sinto uma vontade imensa de fumar. Afeta-me sobremaneira a minha covardia diante das ousadias da vida. Sim, meu querido, porque fumar ainda é pra mim algo muito ousado. Ria-se vá! Eu sei que mesmo se eu não assentir você o faria. E deve ainda pensar, está cá não nega ser de Bonança! Tenho até meu caro, evitado o álcool. Sim, pasme! Mas é por motivos de saúde. Olhe querido, nem vou perder tempo te contado como fui mal de saúde esses dias, é desnecessário. Mas confesso-te apenas, como sofri!

A muito que não vou ao café, nem com Sofis, nem com o Helano. Veja você, eu estar evitando o café, parece algo muito inusitado. A mim que sempre interessou essa atmosfera encantadora dos cafés que freqüentávamos nós todos, revezávamos para que nossos espíritos conturbados e enfurecidos não se chocassem com o gênio do outro. Éramos um grupo e tanto.

Florius ando péssima. Não consigo mais escrever. Ando triste. Sem inspiração alguma. E minha moral anda assim mole como traço de boca de velho. Parece falecida. Dramaticamente afetada com um infarto de não ideias. Estou blasé, meu amigo. Não há elegância nisso Florius, pelo contrário. Isso é paralisia querido, paralisia de sentidos, padeço de atenção. A quietude dos quadros de Johannes Vermeer. A mesma luz plácida me banha. E nada anda acontecendo que me inspire. Quero fazer literatura Florius, ou vou morrer... Talvez seja prenuncio de alguma revolução, mas Florius, eu preciso de dias de desassossego.

Você busca algo, como o Proust. E eu não consigo nem sair a busca Florius querido. Ando fazendo tão pouca literatura. E o que venho fazendo é tão falido e mal. É lixo. Grandíssimo lixo. Ando me perguntando se realmente é mister escrever. Sou uma escritora Florius? Ou ando presa ao cárcere da arte literária? Eu sou uma inutilidade e a minha literatura de nada tem me valido. Tem? Minto Florius? Ela que se vale de mim. Ela que anda sugando os meus grandes dias. Ela que anda me atormentando. E o pior, é que sei que estou atada a ela como um bêbado ao álcool. Ela é que se vale de mim, a literatura, a ponto de tornar-me assim ridícula diante de ti. Florius, estou em desespero. Perdi minha inspiração. É como se perdesse meus sentimentos.

Mas que tola! Pra que estou a te dizer tudo isso? Desabafo, talvez. Mas talvez eu esteja sim desesperada por que estou vendo você fazer grande literatura enquanto eu ando parada na esquina da solidão. A literatura está me matando Florius. Ela vai me matar. E eu só queria as respostas para as minhas inquietações.

Mas deixemo-nos disso. Vamos ao domingo. Ele hoje é de sol.

Perdoe-me o humor (a falta dele), mas é que ando azeda, meu querido. Precisava de você aqui.

Sua amiga sempre amiga,

Laura da Hora

Ps: Moça lendo uma carta, 1657. Johannes Vermeer Van Delft pintor Holandês. Repare na Luz utilizada pelo pintor para recriar toda a atmosfera. O incrível de Vermeer é que essa janela e sua luz rendeu grandes pinturas para ele. Uma das mais importantes é moça com brinco de pérola.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Para Gabriel Anievas, uma resposta



É um amorzinho.
Um vulcão que toma proporções de tufão.
É de lágrimas.
É de iludir, mando logo te avisar,
Foi de mágica...
Somos ou não somos um par?


PS: E as margaridas. Lindas. Amarelas, andam a ficar banguelas.


Ps2: O violinista e uma jovem mulher, Edgar Degas.

sábado, 8 de maio de 2010

A carta, o leitor e a margaridinha.


Querida, fiquei muito triste, imensamente triste por saber de sua tristeza, distante, vazia e sem fundamento. Porque às vezes você possuía a arte de dissimular tão lindamente. E sorri como quem nunca chorou, ou como quem jamais passou por entre uma nuvem cinzenta. E quando balançava o cabelo esvoaçante dava a impressão de quem lança flores ao mundo. Sabe querida, eu olhava pra você buscando só-um-pouquinho-de-sol. Que estranha impressão causou-me teu texto ultimo. Por quem anda marejando seus olhos de imensidão? E por quem procura suas mãos brancas em noites de insônia? E seus melhores textos, quem te inspira? Sabe querida, desejava saber por ti por quem teus joelhos dobram de desejo, teus olhos brilham de luz feliz, teus sonhos ganham a imensidão (você e sua sede de imensidão) como se fossem invisíveis barquinhos de vento. Sabe querida, você deve estar inundando as ruas de pedra da sua cidadezinha poética com seus olhos cegos de lágrimas. Eu fiquei pensando... E ontem te olhando... Acho que eu descobri o seu segredo.

PS: Era uma história estranha, que eu sempre quis decifrar. Mas hoje conto sem pensar. Que explicação que eu sei que se não há, sobra luz nesse caos de paixões. (Oswaldo Montenegro)

PS: A margarida é sua, leva-a contigo.


Fique bem,

Gabriel Anievas


PS: Melancolia, de Edgar Degas, porque me faz falta a sua ausência longa.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Mando-te um bilhetinho


Meu benzinho, eu ando cansada. Muito cansada. Queria você aqui do meu ladinho, deitado, fazendo cafuné no meu pé. Se te apetecer dá-me um beijo no lado esquerdo da boca pra ver se tu preenches a minha barroca mais funda. Eu ando tão cansada benzinho e o meu mundo anda tão confuso que eu só queria sentir era teu cheiro de maçã verde e eu ia direto pro paraíso. Sabe, tem dias que eu ando sem chão, sem pão e sem mão. O mundo perde o tanto da cor que tem no translúcido vidro de teus olhos que refletem raiozinhos multicoloridos. Eu só queria que você aguentasse eu cansada e calada. Sabe, benzinho, eu ando triste. De tristeza sem fundamento. De tristeza vazia. Tristeza distante só sendo. E há quem diga que não.


PS: James Whistler.