sábado, 30 de janeiro de 2010

Campanha para um mundo melhor



B-i-c-i-c-l-e-t-a
Sou sua amiga bicicleta.

Sou eu que te levo pelos parques a correr,
Te ajudo a crescer e em duas rodas deslizar.
Em cima de mim o mundo fica à sua mercê
Você roda em mim e o mundo embaixo de você.
Corpo ao vento, pensamento solto pelo ar,
Pra isso acontecer basta você me pedalar.

B-I-C-I-C-L-E-T-A
Sou sua amiga bicicleta.

Sou eu que te faço companhia por aí,
Entre ruas, avenidas, na beira do mar.
Eu vou com você comprar e te ajudo a curtir
Picolés, chicletes, figurinhas e gibis.
Rodo a roda e o tempo roda e é hora de voltar,
Pra isso acontecer basta você me pedalar.

B-I-C-I-C-L-E-T-A
Sou sua amiga bicicleta.

Faz bem pouco tempo entrei na moda pra valer,
Os executivos me procuram sem parar.
Todo mundo vive preocupado em emagracer,
Até mesmo teus pais resolveram me adotar.
Muita gente ultimamente vem me pedalar
Mas de um jeito estranho que eu não saio do lugar.

B-I-C-I-C-L-E-T-A
Sou sua amiga bicicleta.


(música de Toquinho)


A minha primeira bicicleta era vermelha desbotada e enferrujada. Mas ela tinha um cestinho delicado, branco descascado, mas tão gentilmente levava a minha boneca chamada Ana Cristina Micaela Souza e Silva para passear, que eu apreciava bastante ela. Eu aprendi a andar sozinha com ela, e ela não tinha rodinhas. Eu ainda hoje tenho uma cicatriz bem bonita no joelho que não me deixa. Quando eu era pequena eu corria pela rua em que morava e ela tinha cheiro de eucalipto. Deve ser por isso que o nome do meu bairro era chamado de Parque dos Eucaliptos... Eu gostava de morar lá porque eu corria na minha bicicleta levando baforadas agradáveis de vento no meu rosto e era banhada pelo sol morno de fim de tarde. Eu apreciava imenso andar de bicicleta! E eu hoje nem sei porque não ando mais...

sábado, 23 de janeiro de 2010

Estevão é um Beach Boy


Oi gente, esse é o Estevão. Ele quer ser meu amigo no Orkut. Não sei como ele me achou, porque eu sou bastante reservada e só adiciono amigos que possivelmente o Estevão não possui. Não sei por que o Estevão coloca essa foto velha! Ele esta parecendo um Beach Boy com esse cabelo... E ele acha que a gente acredita que ele tem mesmo essa idade! Minha vizinha odeia gente que mente a idade. Ela odeia o Silvio Santos que tem a mesma cara desde que o SBT existe, e o pior é que ele diz sempre que tem a mesma idade, desde então. Eu acredito na minha vizinha. Ela lê revistas de fofoca desde que era menininha e quando ela era menininha ainda nem existia rádio, mas já havia maledicência. O marido dela se apaixonou por ela no dia em que a viu na janela olhando as pessoas que passavam. Seu Clodoaldo. É o nome dele. Vou comer um pedaço de bolo de chocolate gelado, essa foto do Estevão me deixa constrangida, é claro que eu não quero ter um amigo no meu Orkut com uma foto assim, tão singular! Nesse instante, meu quase amigo Estevão é meu maior problema, e o maior problema do Estevão é a franja dele que cai bem no olho e dá coceira. Pobre Estevão! A vida é cão! E é azeda também, por isso que a minha avó sempre anda com confeito de goiaba na bolsa, ela diz que é pra adoçar a vida. Acho que o Estevão pode esperar mais um pouco pra ser adicionado. Estevão não é meu problema. E eu também não tenho franja!

Bonança, Janeiro de 2010



Meu Querido Florius,


Fecho nesse instante o precioso livro que me remeteste, Grandes Esperanças é impressionante. Há muitos anos não leio um livro que tenha produzido efeito tão estimulante ao meu coração. Quando te digo anos, é porque nessa tarde pensei realmente em tudo o que tenho lido e na sensação incrível que senti a cada página que virava. Dickens é encantador! Juvenil, confesso, e me dá tal idéia de frescor que não posso imaginar que os meus catorze anos não conheceram Dickens. Em diversos momentos me senti na frescura dos meus 14 anos quando li olhai os lírios do campos, sim Florius querido, há em Grandes Esperanças essa doçura triste do livro do Veríssimo. Tenho-te tantos comentários a fazer sobre ele, penso que isso requer uma visita, regada um bom café e a broa de milho, acompanha-me qualquer dia desses? Espero-te ansiosamente.


Sabe meu querido Florius, quando lia Dickens senti uma vontade férrea e inabalável em escrever o meu livro, que anda largado à própria sorte. São inspirações Florius, inspirações! Faltam-me as vezes, e mesmo tu sabes que só quando estiver bem velha é que hei de publicar o meu estimado livro, que é quase um filho de tão apegado a ele que sou, então retardo os dias que chegará o momento de mostrar aos outros olhos não tão condescendentes como os teus.


A Estela de Dickens tem sim um pouco da minha Estela, mas a minha é tão viva, tão jovial que a considero singular. Tenho pensado na minha Estela e no que você me disse certa vez ser ela um reflexo fiel e minucioso meu e por isso não ter eu sobre ela total conhecimento. Considero-a tão cheia de nuances, tão inconstante, como o vento, como o tempo, como a arte.


E isso me lembra dizer-te meu querido,que encontrei soluções satisfatórias sobre o meu livro. Refiro-me ao incomodo que Augusto representava para mim, sim, meu querido, solucionei da melhor forma possível! Exclui esse personagem da história. Apesar da sua personalidade está bem construída, tenho a ele completa aversão. Odeio Augusto e não posso conceber a idéia de que a minha Estela poderia um dia amá-lo. Estou muito feliz com essa decisão, espero que tu fiques também. Diante disso nosso querido Frederico toma novas e maiores proporções. Meta de janeiro? Construir Inês!


E como são lindos os gerânios que você me remeteu! Que encanto de flores! Você percebeu as cruzinhas brancas no escarlate de suas pétalas? Onde encontrou gerânios por aqui? E são tão mimosinhos! E sobretudo, caros! Não deveria ter se dado a esse luxo, prefiro flores mais baratas, já que você deseja continuar a mimosear minha amizade, que já é sempre sua. Quanto aos brincos de princesa, sim, são florzinhas difíceis de encontrar por cá. As lanterninhas japonesas são mais bonitas com sua cor de entardecer.


Querido Florius, vou ficando por aqui, digo-te antes que hoje me sai uma bela dona de casa, confesso que teria talento se não considerasse os deveres do lar tão embrutecedores! Não ria! Fiz bolo, mas como não saiu da fôrma de forma a apresentar a ti, não te envio ele. Hoje estou particularmente feliz! E sim, ontem a moça da padaria sorriu pra mim! E tu que juravas que ela não sorria porque não tinha dentes! És um bobo! Deixo-te com um carinhoso beijo e um sorriso no rosto, que eu sei.


Sua sempre amiga,

Laura


PS: Autumn in Bavaria. Wassily Kandinsky, o pioneiro do abstracionismo nas Artes Plásticas, nasceu na cidade de Moscou, em 16 de dezembro de 1866. Filho de pais divorciados, ele foi educado pela tia, optando a princípio pela música, que posteriormente refletirá em seu trabalho como pintor, pois ela lhe confere noções essenciais de harmonia e evolução. Kandinsky seguiu inicialmente as trilhas acadêmicas, formou-se em Direito e Economia na Universidade de Moscou, mas logo depois desistiu desta profissão, encontrando finalmente seu destino nas veredas das artes visuais, ao se apaixonar por uma tela de Monet.

Kandinsky tirou da arte a sua obrigatoriedade de representação da realidade, inaugurando o ciclo abstracionista com sua primeira aquarela abstrata (1910). Alguns artistas já haviam feito experimentos com a dissolução de imagens, mas Kandinsky foi o mais consistente e lógico na busca de um modo de expressão não figurativa. A obra acima não expressa sua fase abstrata, ela é mais voltada a sua fase figurativa do início da sua carreira, de cores quentes, que de certa forma remete-nos a uma arte mais fauvista.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O sorriso da vendedora de pães


Algo de muito notável aconteceu hoje. Não, permita-me o leitor corrigir, pois não lhes quero causar grandes expectativas, e isto é mais um texto cotidiano, vulgar como os dias comuns de umas férias. No entanto, confesso, algo realmente impressionante aconteceu hoje.

As quatro horas tomei meu banho, porque nas férias eu tomo o estranho costume de agir quando em criança. O que me leva a ter horários rígidos para a mínima tolice. Eis a maior tolice, tomar banho às quatro horas! Há também outro costume, e esse me agrada em absoluto, é após o banho me perfumar com alfazema. Por dois motivos, um deles é porque me remete a minha doce e incrível infância. E o outro motivo é que sendo eu, movida por essa singular lembrança da infância, não deixo de dar aos meus personagens mais queridos um suave perfume de alfazema. sendo eu tão personagem de mim, que me crio, me desafio, me reinvento, também é natural que eu use tal perfume.

Depois desse pequeno ritual vou sempre a padaria, porque gosto do cheiro de fim de tarde, de sua suavidade melancólica, de suas cores vivas, de sua luz distante, do barulho das crianças, do bem te vi (andam realmente aparecendo muito essas avezinhas aqui por casa!). E assim eu vou à padaria, me desviando da bola que voa de um lado a outro da pelada lá frente de casa. Engraçado, no meu tempo a gente parava de jogar a bola quando alguém cortava imprudentemente o nosso "campo". Hoje já isso não se sucede. Então lá segui eu para a padaria. Boa tarde, Manoel! Boa tarde, Zé Paulo! É o tempo tá bonito! Tanajura? Não, não comi não! (Tive vergonha de correr pela rua em busca delas). E nesse cumprimentar de vizinho aqui e acolá, cheguei por fim na padaria. Oh moça, me dá seis pãezinhos doce, sete francês e três pães de seda. Como sempre a moça radiante de felicidade, comunicativa e jovial que a minha atendente não era, e que eu lhe dei a graça de moça, escutou o meu pedido (normalmente ela demora bastante, mas é uma moça solícita). Então, ela tacitamente recebeu dinheiro de mim e me deu os pães. e eu sem ter visto ela colocar os meus preciosos pães doce, interpelei confusa: Moça, tu colocou os pãezinhos doce?

Pasmem senhores! A minha jamais sorridente atendente e que eu chamava de moça, sorriu. Em toda a minha vida de compradora de pão, nunca tinha visto a moça da padaria sorrir. Se ela soubesse que tinha um belo sorriso e se tornava bastante agradável sendo simpática, será que ela nos sorriria sempre? Eis uma pergunta que eu não sei responder, porque penso que ela sabe que seu sorriso é belo, mas não se digna a distribuí-lo a todos. Mas o fato é que ela sorriu para mim! Justamente para mim ! Justamente para mim que saiu todos os dias da padaria jurando ir a outra padaria, se houvesse, contudo, uma mais próximo a minha casa, só por pirraça. Mas não há meus amigos! O fato é que ela sorriu! Sorriu por causa de um paõzinho doce. E isto, torna a história do cotidiano tão mais encantadora.


PS: A vendedora de pães, Guastavo Poplete Catálan (1915-2005) Pintor Chileno, era professor de desenho da Faculdade de Belas artes do Chile.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010




Bem te vi
No dia em que o céu ameaçou desabar
Bem te vi
Bem te vi
Dia triste
Chove o céu assim calado
Tarde calma
Frio bom
Livro que enternece
Café esquenta
Pés de meia
Convite pro silêncio
Psiu, tudo dorme!
Pão e manteiga
Bem te vi
Assim no jardim
No teto
Bem te vi
- Que som bonito!
Bem te vi.


PS: Toulouse Lautrec.

sábado, 16 de janeiro de 2010

No campo das princesas


Hoje o céu está coberto por umas nuvens zangadas...
Hoje eu me lembrei de Florius, meu amigo!
Florius e eu sentávamos sempre diante do chafariz do campo das princesas, para tomar sorvetes e inventar histórias para as pessoas sentadas na praça. engraçado, que a gente inventava como se eles próprios não já possuíssem a sua história de vida. Nas nossas histórias eles pareciam sempre esperar qualquer coisa que um dia chegaria destravando portas, eram assim que começavam, ao menos, as minhas histórias fabulosas.

Observei um dia, um casal de velhinhos que caminhava a nossa frente. O homem apoiava ligeiramente a mão sobre o ombro da mulher. Sem saber porque, emocionei-me.

- Dois seres unidos! - Disse eu, Florius compartilhou a mesma comoção. - Deve ser doce avançar pela vida com uma mão sobre os ombros, tão familiar que já não lhe sente o peso.
- Como solidão conjurada. - Florius nunca gostou da solidão.

Dois seres unidos! Isso me levou a sonhar. Pensava muitas vezes se encontraria um homem feito pra mim. Floriu em criança dizia-me: as mulheres como tu são feitas para os heróis. Eu sorria, é claro. Respondia-lhe que os heróis não existem mais. Se até os heróis da Marvel morrem! Quem dirá os heróis da vida real!

Decidi-me desde então, eu amaria no dia em que um homem me subjugasse por sua inteligência, sua cultura e sua autoridade. Só me caso se encontrar o meu duplo. Não falo da pieguice de alma gêmea, dessa fragmentação pós-moderna. Também não convenciono falar de amor infinito, parece-me definitivo, remete-me a prisão. Fala do amor absoluto em todas as suas possibilidades.

Encontrar meu duplo favorece e de certa forma fortalece a idéia imperiosa da minha vida: Conquistar o mundo!

Florius sorria com mais essa história inventada.

Começou a chover aqui, e o meu coração parece apertado demais, quer falar e quer o silêncio ao mesmo tempo.


PS: Sonhos de Rodin.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Bem feito pra tu oh Manoel!


Teresa, se algum sujeito bancar o

Sentimental em cima de você

E te jurar uma paixão do tamanho de um

Bonde

Se ele chorar

Se ele se ajoelhar

Se ele se rasgar todo

Não acredite não Teresa

É lágrima de cinema é tapeação

Mentira

CAI FORA


(Manoel Bandeira)



Oh, Manoel, e eu lá sou besta de acreditar em tu?

Sabes por que falas isso?

Por que queres que eu cá espere tu se separar da tua nêga!

Mas vê lá se isso tem cabimento!

Deixe de ser besta seu Manoel,

Que se um sujeito bancar o sentimental comigo eu lhe juro amor eterno...

E tem mais, acredito se ele me disser que agora eu vou viver um grande amor.

Oh Manoel, já fui muito besta por ti...

Tu és um safado danado e anda enrolando essa pobre moça aqui do sabonete Araxá.

Deixa de ser sem vergonha homem...

Que na tua eu não caio mais não!

Pra tu, Manoel, acendi uma vela e subi o morro da conceição de joelhos

E qual o que?

Tudo fiação

Digo-te por fim, maldição

CAI FORA VOCÊ, OH MANOEL


PS: A mulata grande, de Carybé (1911-1997). Pintor argentino naturalizado brasileiro depois que conheceu a Bahia. Seu nome verdadeiro é Hector Julio Páride Bernabó, Caribé veio de um apelido de escoteiro, e é um tipo de piranha. Pintor, gravador, desenhista, ilustrador, mosaicista, ceramista, entalhador, muralista. Em 1944, vai a Salvador, e se interessa pela religiosidade e cultura locaisA arte de Carybé foi algumas vezes considerada expressionismo, continha em suas figuras um sentimento carregado em cores escuras e quentes. Nas suas obras marcaram presença o retrato do povo brasileiro, suas religiões e seus costumes, algumas vezes confundia-se sua arte com o surrealismo. Embora retratasse o seu povo, não o fazia sob a égide de um cunho social, ele não acreditava no poder da arte. O que ele desejava, e nisso ele merece louvores, era retratar o testemunho de uma cultura rica em detalhes e cores como é a nossa.

sábado, 9 de janeiro de 2010

A visita de Nino













Era dia de natal. E ele chegou com um sorriso tímido e mãos trêmulas, ela ria dele por tentar disfarçar seu nervosismo de menino pra ela, logo pra ela, que era tão dele, que o lia como a um livro aberto.


Olharam-se quase por um minuto. Até seus corpos se exigirem em forte e longo abraço. Abraço este que a distância tratou de manter quase abraço. E foi um abraço de suspiros doces e alívios ternos. Era o encontro de corpos que falavam ao toque.


Sentaram assim, um bem próximo ao outro, quase colados no abraço sem fim, o corpo dela ao dele. Ela olhou seus olhos, sua linda iris, portal para os seus óculos fantasiosos que a faz olhá-lo por dentro. Estava feliz como ela. Tinham olhos e coração e sede de ternura, eram um homem e uma mulher que sabiam se entender sem palavras, só o silêncio bastava entre eles.


Nino sentia aquela vontade indizível de lhe falar docemente coisas que só ela entende. De contar suas aventurazinhas com meandros de ternura para que ela não se zangasse, porque ele conhecia a sua Laura, e basta lhe dar razão para que ela faça uma guerra. Ele gostava disso nela! Sentia saudades de seus rompantes de raiva. De seus ódios. De seu andar ligeiro, e do seu exagero. Das covinhas e do som de seu sorriso. E gostava de seus olhos expressivos. E de sua franqueza insensível. Também do seu humor sarcástico. Ria do seu perfeccionismo perfeito. E de sua busca pela simetria dos móveis sobre os espaços dos azulejos. E de sua multifuncionalidade. Queria falar tudo isso a ela, mas a sua Laura falava em 36 rotações e gostava tanto disso que só a interrompia quando desejava roubar-lhe um beijo. O nino sentia tantas saudades daqueles seus beijos criativos!


No balanço do jardim, sob a figueira prateada depois que o sol saiu, estavam eles regados a muito chá de limão, servidos no conjuntinho de porcelana que ela guardava pra dias especiais. Conversaram muito terna e apaixonadamente, desejando suprir a fome dos meses que passaram um longe do outro, no silencio do toque. Bateram a ave Maria, acabou-se o dia, a noite já era vazia. E o céu assumiu um novo colorido, de belíssimas matizes e tons comoventes.


No fim da noite tinham por ceia a lasanha maravilhosa da Laura (Porque ela havia inventado aquela receita e o molho especial). Depois uma salada de manga e alface. E por fim um delicioso mousse de limão que o Nino ajudou a fazer. Tudo isso assistindo musicais antigos. Que o Nino adorava.


Diria que o Nino nunca quis uma pessoa tão próxima a ele quanto a sua Laura. Às vezes ele queria ir correndo a casa dela, bater na porta, surpreendê-la ainda na cama, com o rosto amassado pelo travesseiro, ranzinza a não caber em si, com aquele seu velho pijama azul com os fundos costurados de linha branca... E ele riria dela. E ela brigava com ele. Mas depois de um cafezinho, o bom humor reinaria. Mas havia tanta distancia, tantos quilômetros entre eles... Isso só eram devaneios...


Engraçado, mas naquela noite de natal Nino disse algo a sua Laura que lhe arrancou lágrimas, disse que ela lhe completava de forma a não sobrar nenhuma brechinha. Era uma coisinha boba, é verdade, mas era uma forma de reafirmar todo aquele imenso amor do inicio e que a distancia não era em verdade nenhum empecilho. E que ele amava tanto a sua Laura... Era pena ela nunca acreditar e achar que ele estivesse sempre brincando.


PS: O beijo, de Maksi Movych; O beijo, Toulouse Lautrec; O beijo, escultura de Constantin Brancusi; O beijo, escultura de Rodin; O beijo, de Picasso; O beijo, de Edward Munch; O beijo, de Klimt; O beijo, de Roy Lichtestein; O beijo, de Henri Cartier Brensson; O beijo, de Francesco Hayez.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Cartas a uma jovem escritora


Para Laura


Semana passada fiquei feliz, feliz a não caber em mim. Enfim, a moça respondeu a minha carta. E esperei bastante por ela, digo até ansiosamente! Mas compreendo que os misteres de escritorazinha tenham tomado conta da sua vida nos últimos dias, eu muito a felicito, pois sei como é estar em dias de inspiração.


Sabe minha querida, sobre a sua sede de vida e essa sua constante e eterna angustia em abraçar o mundo, pôr no colo e embalá-la como se ele fosse uma eterna criança, bem minha flor, ela jamais há de passar. Mas penso que você se sairá bem ao usá-la para o que você escreve.


A propósito, tenho lido muitas coisas que você já escreveu, e confesso que algumas eu não venho gostando. Não se zangue comigo, sei que é competitiva e perfeccionista e que não suporta errar, mas preciso lhe contar minha opinião. Laura, minha querida, a alguns de seus textos que você me remeteu falta alma. Aquele texto mais minimalista e sensível que você me enviou, falta um tanto de serenidade, e talvez por isso mesmo que você disse-me que eles estavam vazios, lembra-se? Também não gostei dele, e digo mais, sabe o que me pareceu? Fato curioso, não parece que você escreveu como se ele viesse de dentro, ao contrário, pareceu-me superficial. No outro texto, aquele mais realista, digo até mais denso, a esse careceu profundidade psicológica, profundidade esta que eu encontrei no primeiro capítulo de A Reunião dos Nossos. E que tanto me fez vibrar, Laura, não pense que você perdeu a sua veia literária, porque o seu blog está de prova que não, mas acredito que você deva se concentrar mais no que dizem seus sentimentos, porque sei que a senhora possui bastante sensatez e discernimento critico para saber o que realmente está bom. O capitulo três parece-me de fato exagerado, mas a sua Estela esta tão adorável que não posso conceber erros nele, mas se você não gosta dele, mude o que achar ser necessário.


Quanto ao seu coração, minha querida, parece que a senhora anda com ares de covarde, anda bebendo chá de gengibre com limão sem gostar. Depara-se com um sentimento e corre dele com medo. De sofrer? De ser feliz sem ser só? Ou de sofrer de novo por amar de mais? Moça a senhora não é de cristal, se não quebra, pra quê evitar o amor? De quantos já fugistes? Dos que eu sei, perdi as contas! Isso é lá bom? Ma petit ami, não foi a senhora que andou escrevendo desejar sentir tudo de todas as maneiras? Pois agora anda escrevendo as coisas sem as sentir? Isso não vai lá bem.


Mandei Dickens para você ler, sei que não aprecia em demasia os escritores ingleses, mas há entre eles alguns muito bons, como Wilde. Esse mesmo você leu e reconheceu o talento inigualável. Quanto a Grandes Esperanças, espero que aprecie a eloqüência irônica, o realismo amável e sorridente desse velho e talentoso inglês, Dickens e que aparte-se um pouco dos russos, e sua literatura sombria e negativa, que não lhe faz bem, são muito depressivos!

Minha querida, já que você exprime o desejo de conhecer melhor o Gógol, e de saber os pormenores de sua literatura, embora eu não concorde com essa sua persistência com os russos, e eu penso que você é muito teimosa a esse respeito, ainda assim, te enviarei um. O capote, claramente não é o melhor livro dele, mas é excelente e por isso indico que você comece por ele. Mas antes, leia com entusiasmo Dickens, ame pipi e Estela. Sim, lembrei-me de sua Estela dia desses, bela construção de personagem, e ainda a considero melhor que o Raul, embora você discorde veementemente.



Quanto aos mimos, não reclame, enviou-os quando bem entender, sei que você aprecia pequenas delicadezas, e eu desejo agradá-la sempre que me for possível.


PS: Espero que goste dos gerânios, em substituição aos brincos de princesa que não encontrei no mercado.


Seu amigo,

Florius



PS: Um Picasso para começar o ano.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Silvio Santos vem aí, lá-lá-la-lá-lá


Chegue lá em casa dia de domingo, chegue! Lá no domingo tem o almoço com a família. As janelas abertas, o vento bulindo a toalha de mesa, os cachorros vira-latas latindo por uma folha que cai. Minha avó no quintal dando pra vizinha umas folhas de colônia. Olhe esse aqui você pega e faz um chá, com a outra parte você dá um banho na Joana, mas não deixe ferver muito não, se não as folhas murcham e perde e eficiência. As ervas medicinais! O telefone toca. Momãe, ô momãe, Tetê no telefone! Wanda marca a visita pro próximo domingo, esse tava cheio, não recebeu ainda a aposentadoria. Ai, ai, minha mãe finge que acredita. Minha irmã fora do telefone. Vem, vem logo ver a gata dormindo em cima da geladeira. Todo mundo corre pra cozinha. Meu cunhado chega, minha avó retruca: ele está apaixonado como nunca! Chegam um tio, e mais outro tio. Aparece o Caio e a Carol. Meu irmão chega pela porta de trás porque divide um terreno com minha mãe. Com violão a tira colo, o moço sabe tirar notas bonitas com o velho instrumento. Do quarto da frente se escuta os passarinhos, discutindo no ouvido, fazendo ninho na figueira. As crianças riem. A rede balança. Uma criança chora. Um tio grita do quarto que o Santa tá que vixe Maria! Bonança é lá perto de Vitória do Santo Antão! Eita, é mais perto de Moreno, meu irmão! Moreno não é onde tia Baia mora, né não? Onde tem aquele casarão. É. lá perto de Moreno engenho.



PS: A família de Tarsila do Amaral.