sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O sorriso da vendedora de pães


Algo de muito notável aconteceu hoje. Não, permita-me o leitor corrigir, pois não lhes quero causar grandes expectativas, e isto é mais um texto cotidiano, vulgar como os dias comuns de umas férias. No entanto, confesso, algo realmente impressionante aconteceu hoje.

As quatro horas tomei meu banho, porque nas férias eu tomo o estranho costume de agir quando em criança. O que me leva a ter horários rígidos para a mínima tolice. Eis a maior tolice, tomar banho às quatro horas! Há também outro costume, e esse me agrada em absoluto, é após o banho me perfumar com alfazema. Por dois motivos, um deles é porque me remete a minha doce e incrível infância. E o outro motivo é que sendo eu, movida por essa singular lembrança da infância, não deixo de dar aos meus personagens mais queridos um suave perfume de alfazema. sendo eu tão personagem de mim, que me crio, me desafio, me reinvento, também é natural que eu use tal perfume.

Depois desse pequeno ritual vou sempre a padaria, porque gosto do cheiro de fim de tarde, de sua suavidade melancólica, de suas cores vivas, de sua luz distante, do barulho das crianças, do bem te vi (andam realmente aparecendo muito essas avezinhas aqui por casa!). E assim eu vou à padaria, me desviando da bola que voa de um lado a outro da pelada lá frente de casa. Engraçado, no meu tempo a gente parava de jogar a bola quando alguém cortava imprudentemente o nosso "campo". Hoje já isso não se sucede. Então lá segui eu para a padaria. Boa tarde, Manoel! Boa tarde, Zé Paulo! É o tempo tá bonito! Tanajura? Não, não comi não! (Tive vergonha de correr pela rua em busca delas). E nesse cumprimentar de vizinho aqui e acolá, cheguei por fim na padaria. Oh moça, me dá seis pãezinhos doce, sete francês e três pães de seda. Como sempre a moça radiante de felicidade, comunicativa e jovial que a minha atendente não era, e que eu lhe dei a graça de moça, escutou o meu pedido (normalmente ela demora bastante, mas é uma moça solícita). Então, ela tacitamente recebeu dinheiro de mim e me deu os pães. e eu sem ter visto ela colocar os meus preciosos pães doce, interpelei confusa: Moça, tu colocou os pãezinhos doce?

Pasmem senhores! A minha jamais sorridente atendente e que eu chamava de moça, sorriu. Em toda a minha vida de compradora de pão, nunca tinha visto a moça da padaria sorrir. Se ela soubesse que tinha um belo sorriso e se tornava bastante agradável sendo simpática, será que ela nos sorriria sempre? Eis uma pergunta que eu não sei responder, porque penso que ela sabe que seu sorriso é belo, mas não se digna a distribuí-lo a todos. Mas o fato é que ela sorriu para mim! Justamente para mim ! Justamente para mim que saiu todos os dias da padaria jurando ir a outra padaria, se houvesse, contudo, uma mais próximo a minha casa, só por pirraça. Mas não há meus amigos! O fato é que ela sorriu! Sorriu por causa de um paõzinho doce. E isto, torna a história do cotidiano tão mais encantadora.


PS: A vendedora de pães, Guastavo Poplete Catálan (1915-2005) Pintor Chileno, era professor de desenho da Faculdade de Belas artes do Chile.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quanta sensibilidade pra dedicar um texto a uma mulher que ri!

Laura da Hora disse...

É porque ela nunca ri!