quinta-feira, 23 de abril de 2009

Nient


Sabe aquela terrível sensação de sol apagado sem brilho nem cor, é dia cinza, e, sobretudo, tem um vento frio e cortante que atordoa a gente ao sair na rua em dias assim. Pois, meu caro, não se assuste, mas ando vivendo em tempos assim. Vivendo com uma perturbação constante no pé do ouvido, num zunzum de vento rouco irritando-me sadicamente. De céu nublado... E confesso, há dias que penso que perderei o cerne do juízo. Nada parece mais inconveniente do que esse zumbido e esse aperto no coração de nulidade. Nulidade é o sentimento que consta aqui. E ele grita, grita no silencio de mim, querendo o silencio fora. Ele quer que eu me esconda do mundo. Que eu feche os olhos e o mundo passe sem passar eu antes por ele. Ele anseia me destruir...




PS : Puberty de Edvard Munch (nascido na Norúega 1863-1944) marcou o expressionismo, particularmente na Alemanha (onde viveu), e também a pintura européia do século XX. Em outro quadro, menos conhecido, reencontramos a mesma força de expressão, de cores e também de isolamento.

quinta-feira, 16 de abril de 2009


Mãe
Eu acho que comi um parafuso
E ele tava dentro de um caramujo
Porque o meu mundo anda tão confuso,
Que um dia me abuso
E jogo tudo no lixo.
Queria só vê se não zangava!
E parava de me atormentar logo, logo.
É
É isso.
É.
Não, não faria isso não...
Mas confesso, quero um abraço mãe...
Um abraço pra afogar de carinho,
Que eu tô cansada, assim, de ser sozinho...
Eu sinto falta de abraço, é isso...
É.
É isso.
Mãe você me abraça?
E você, abraça?

PS: Manhã, de Edward Munch

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Querido Nino


Repito novamente, tenho saudades de ti. Sabe que te escrevo aqui, sentada no banquinho, tão singelo, tão poético. O nosso velho banquinho azul em frente ao laguinho. Choveu muito hoje e o dia ainda assim esta quente. Nem um vento vem acariciar-me, nenhum vento trouxe-me um beijo teu. Olha nino estou com medo. Estou com medo. Medo do futuro, medo do escuro. Medo da solidão. Mas talvez a solidão seja boa... A solidão é boa nino, embora você nunca acredite em mim.


Tenho medo que as minhas inspirações fujam...que cessem de repente. São as minhas melhores inspirações. Gosto, hoje do que escrevo. Pergunta-me se eu amo? Confesso, querido, não sei se é amor. Confesso também, que nem sei se quero me perder de amor. Eu tenho medo do velho sonho de amor inteiro me aplacar. Tenho medo de amar tanto e esquecer que sou poeta. Não ria nino, eu não brinco! E não me chame de Lily Braun, que não quero ser como ela! Tenho medo do passado visitar essa tua amiga aqui. Tenho medo do amor da sombra a essa poeta que desabrocha. Que só deseja o sol do sol de verdade. O brilho eterno e não o fugidio.



Amo-te sempre

Sua Laura



PS: Berthe Morisot, A woman at her toilette, 1875.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

É só uma flor no jardim, nada mais...


Você me beijou...

Eu senti o chão tremer!

Que boba que sou...

O tremor do chão

São flores nascendo,

E não o seu amor!