segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Do Helano


Queridinha

Escrevo para consolar sua preocupações, que são tantas, não por desejar falar com alguém, e também porque estou preocupado com você. Suas cartas andam revelando tanta decepção, tanta tristeza, andam magoando você queridinha? Você vai me responder que não, que ninguém pode magoar o outro sem que a própria pessoa deixe. Sabe Laura, você deveria deixar de ser essa partícula se de indeterminação, de ao verbo um sujeito! E dê a ele a merecida culpa. Mas você não há de fazer isso, que tolo é o meu conselho, eu conheço muito bem você, sua elegância de carater, a dignidade assumida por você diante das situações adversas e a inacreditável nobreza de seu coração. Você chorou não foi? Eu pressenti.

Eu poderia dizer a você minha querida, cabeçuda e teimosa Laura, que protegesse seu coração, mas você não me escutaria não é? Não sei ainda a sua mania de perdoar tudo. E sua detestável mania de se achar forte o suficiente, capaz o suficiente de suportar todas as dores do mundo. As vezes minha querida, a gente não deve perdoar, esquecer sim, e acredite perdoar e esquecer não estão interlgados, quem o diz é poeta, ou é cristão, são todos tolos minha querida, todos tolos.

O Florius me escreveu, não está gostando de seus textos, você também não, nem eu. Está lhe faltando alma, e sem alma seus textos não passam vida, eles não pulsam. Para onde está canalizando suas emoções minha branca? Rio anda seco no sertão a fora. E o florius que não volta? E o nino que sumiu? E Sofis? Onde anda sofis? Parafraseando o Vinicius, a vida é arte do encontro, embora, haja tanto desencontro pela vida.

Minha pororoquinha branca, é você é uma pororoca que adentra impetuosa pela vida, arrastando velhas opiniões, verdades construídas, destruindo beleza, revirando o mundo dos outros sem fazer silêncio, você assusta queridinha toda a sobriedade de um mundo real inventado. Engraçado é teres encontrado um outro par. É impressionante. Mas pororoca não é o encontro de dois rios?

Mas vamos falar de mim, enfastiei-me de ver-te sofrer. Vou fazer-te rir de meu desespero. Hoje me dei conta da idade que tenho. E o que tenho eu? Um apartamento sem mobília, sabes que ainda me cortaram a luz ? Minha ex-mulher, a Tereza Arcadievna (como se me fosse permitido ter outra esposa) me odeia e seu maior desejo é me ver na cadeia. Um filho que descobri que não é meu. Todos os bolsos da roupa vazios, não tenho um centavo pra pagar a puta mais barata do mercado. E por ironia eu ainda sou um filho da puta. E a única coisa que espera é a morte. Ninguém se importa comigo, a não ser você minha amiguinha. Eu Estou odiando a minha vida! E sabe o que acho dessa vida desprezível? Vou deixar de ser escritor, deixar de escrever romances épicos e canalizar meu talento- se é que tenho algum- para algo que pague a porra de minha conta. Parece minha flor, que só existe dor e desespero aguardando por nós na próxima esquina, especialmente por mim., porque se há Deus, queridinha, ele me odeia. Mas tanto melhor, que a recíproca torna-se verdadeira. Sou o escritor mais desafortunado dessa vida, escrevi quatro longos romances desde 2008 e nenhum deles foi aceito. E então queidinha, mato-me antes ou depois desse espasmo proustiano carregado em benzendrina?

Minha pororoquinha branca queria você aqui, tomar café com rosquinha no café colombo, como nos tempos antigos. Ter a segurança dos seus abraços e seus olhos a me amar.

Perdoe-me o desabafo, e a preocupação que estou te dando, é porque queridinha, eu também não ando muito satisfeito com o rumo das coisas. Escreve-me uma poesia sim? Ou qualquer coisa que me deixe feliz. Salve-me dessa saudade sem socorro.

Ps: Gostod e saber que você ainda se recusa a admitir que amar é sofrer.



Amo-te,
Teu sempre e insatisfeito amigo
Helano



PS: Degas. Ao som de Luz antiga, Ana Canãs.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Desabafo de dias atrás


Mas é que as lembranças são confissões de uma covardia irremediável. Ando confabulando fugas ao longo do dia. Fuga dos livros, das paisagens comuns, do meu coração e de uma verdade não dita. Procuro calculadamente distanciar-me do ponto em que sou sempre lançada a abstrações abismais sobre a vida que ando levando.




PS: A arte de Fuco Ueda é uma mistura de surrealismo, sensualidade e um toque etéreo que a diferencia de qualquer outro artista japonês em ascensão. Seus temas são constantes e não cansam seus admiradores. Usa figuras femininas num universo onírico onde uma gama de sentimentos é representando pelas suas cores fortes e pelos seus gestos


PS2: Música Luz antiga, Ana Canãs.