terça-feira, 17 de novembro de 2009

Recadinho ao menino de verde


Por que não troca a estrada?
Poste de luz queimada e esburacada...
Talvez o perfume de outro caminho?
Talvez não seja só ternura de primavera,
Leveza de ar
Sede de vida...
Sei lá,
É só um outro bom dia, moço,
Quem sabe!


PS: Encontro, 1924, de Lasar Segal, e as nítidas influências do modernismo brasileiro.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Minha canção preferida: Caminho proibido


Gosta de correr mundo e correr perigo.
Um dia te chamo pra vir comigo
Sob o sol de janeiro.
É flor com sede de luz da estrela.
Tem minha alegria,
E o meu entusiasmo pela vida
E vem acordando com audácia o amor e a angústia do meu coração: cidade desabitada.
É contagiante e aquece como luz insistente
É meu fechar de olhos. Quase sonho.
À propósito,
Tem me aparecido neles,
Noite passada mesmo, te revi.
Tem uns olhos que eu amo
Olhos que me namoram,
Vê o mesmo que eu vejo?
E teu beijo em sonho
Lembra alegria de acácia florindo
Frio de voo pássaro.
Mas tem laço de fita no pescoço,
Pro meu desgosto
De solidão de espinho.
Uma tormenta de mar sereno,
Um dia barco vira,
Aí quero ver como eu fico!
E sei, foi feito pra mim,
Que eu sei.
Só cheguei em dias de atraso
E ele nem desconfia...



PS: Aldeia Russa, 1912, Lasar Segall. Pintor Russo, naturalizado brasileiro em . Depois de estudos percebo que Segall não cabe em rótulos, não se lhe pode classificar as obras, porque ele escapa à esteriótipos. A arte de Segall é resultado de um processo de complexas sedimentações culturais e por isso mesmo são obras desafiadoras.
Aldei Russa é composta por recortes triangulares, estilhaços de cores assentados numa linha diagonal. É como um quebra cabeça emocional, é o expressionismo de Segal se revelando na sua fase inicial.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Estava no baú das recordações e eu nem sabia...


Eu lembrei de você
E a quantos anos não me recordo de ti com saudades
Hoje que te escrevo
Ela vem com cheiro de alecrim,
Gosto de café com leite e muito açucar,
Música chinfrim
Romance sem flor, sorriso e dor.
Meus olhos amanheceram verdes...
Você amava os meus olhos com a sinceridade que não me amava,
Lembro de você ainda dizendo
Ter que me amar
da noite até o amanhecer convulso,
Que era pra conhecer todas as nuances escondidas dos meus olhos verde-amendoados
Sob as variações da luz do dia.
Eu sorria...
Sabe,
Eu fiquei triste hoje, sei lá...
De uma tristeza longe
Sem dor, sem rancor...
Nunca vamos saber qual seria a cor dos olhos do nosso filho.




PS1: Woman with black cravat, Modigliani. O grande rival de Picasso só pintava os olhos quando conheciam a alma. Ele era aficcionava pela sinceridade dos olhos de sua modelo. Esse quadro representa a sua mulher Jeanne Modigliane, e ele só pintou seus olhos quando já conhecia a sua alma.


PS2: Não sei porque, de você só guardo as lembranças miudinhas.

terça-feira, 10 de novembro de 2009


Glorinha, deitada na grama do laguinho, contemplava, diante de seus olhos, a ondulação das folhas da grama. Engraçado, eram todas idênticas, como um mesmo refrão tedioso repetido inifitas vezes. E eram, a seus olhos voluntariosos, tão indiferentes! Pensei que seria a morte ser asim, tão igual às outras.
Ergueu os olhos para a figueira, ela dominava a paisagem, rompia o céu, inundava o chão com suas raízes. A ela não tinha rival. Glorinha decidiu-se, seria como ela!


PS; In the garden of the villa bellevue. Edouard Manet vai muito alem das estéticas da pintura impressionista, utilizando os jogos de luz de claro e escuro, diferente dos adocicados da época. E pintava mais o realismo-quase-naturalismo seguindo a nova estética literária presente em Zola e em Maupassant. Era criticado pelo estilo de pintura e pelos temas escolhidos. Manet influencia os prercussores do impressionismo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Carpinteiro, não me corte a figueira....


A árvore da serra


-As árvores, meu filho, não têm alma
E esta me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!
- Meu pai porque sua ira não se acalma?
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?
Deus pôs alma nos cedros... Nos junquilhos...
Esta árvore meu pai, possui minha alma!
- disse - E ajoelhou-se, numa rogativa:
"Não mate a árvore, pai, para que eu viva"
E quando a árvore olhando a patria serra
Caiu aos golpes do machado bronco
O moço triste se abraçou ao tronco.
E nunca mais se levantou da terra.

(Augusto dos anjos)



Um cheiro forte e acre verde derramado
Era a minha figueira prateava que sangrava
Sob as mãos de um machado bronco
E um coração sem pranto
Tombava pouco a pouco sob meus olhos desconsolados
É clarão que entristece
Folha branca sem arabesco
Chão sem folha seca
Que serão das minhas poesias
Se me faltar a figueira um só instante?
Inspiração faz as malas
Viaja pra longe apertadinho...
Leva a sombrinha!
É pra alma que chora.
Pra olhos verdes amendoados
Lágrima é chuva de coração alagado.
Não chora minha figueira!
Tua morte implacável
Dói-me
Como mão grande apertando coração pequeno.
Vai sossegada flor...
Que no céu
Tem um jardim florido,
Uma pequena casa,
Um banquinho
Uma menininha de branco pra te amar
Uma poetinha pra te embalar...
Vai flor,
Que inda agora Deus me confessou!
Mas antes ouve,
Juro-te que vou te encontrar
Vou ser boazinha e me comportar
Vai que é chegada a hora!
Viverei, minha figueira prateada
Do desejo de revê-la
Num mundo em paz
Onde não haja
Coração bronco,
Nem machado tonto.




PS1: Great-pine, Cezanne.

PS2: Para a figueira do meu jardim!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

15 coisinhas à toa que me fazem feliz


1-Um gato se espreguiçando sob um raio de sol.
2- Estourar plástico bolha.
3- Comer sonho de creme com café em dias chuvosos.
4- Almoçar na sala assistindo o fabuloso destino de Amelie Polain.
5- Ler Dostoiévski em dias de desassossego.
6- Ler Dostoiévski em dias de sossego.
7- Um beijo delicado no canto da boca.
8- Sentir a paz de uma criança adormecida em meus braços.
9- Chico Buarque.
10- Maratona Friends.
11- Abraço de mãe.
12- Escrever, escrever, escrever.
13- Acordar com o pé de jasmim-laranja do jardim florido.
14- Assistir o pôr-do-sol da janela do meu quarto, sentindo o vento sereníssimo acariciar meu rosto.
15- Fazer lista de 15 coisinhas à toa que me fazem feliz, porque me deixa feliz.



Meus caros leitores, convido vocês agora mesmo a fazerem uma lista de 15 coisinhas que te fazem feliz. Não se surpreendam se desejarem construir uma lista que vai alêm de 15 coisinhas. Custa tão pouco ser feliz que é impossível não ser feliz o tempo todo.


PS: A bailarina de Anita Mafalti.