quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Dia iraniano em vidinha nouvelle vague


Citei ainda ontem o Drummond como paliativo para o meu atual bloqueio literário. Estou sem conseguir escrever nada. E eu que quero tanto escrever algo. Por necessidade e pela própria falta dela, por desatenção e por ansiedade, aqui arbitro minha incapacidade com as palavras. Sai-te vazio desgraçado. Salta as amarras de teu encosto e pulas cá dessa alma. Pensei, quando acordei, em escrever qualquer coisa sobre o dia de hoje. Mas hoje não passou senão de um filme iraniano. Um tédio e eu não entendi foi nada. Mas se me perguntas qualquer reflexão do dia de hoje, é uma ânsia afinal pelo que não sei se chega. Pedaço de pedra sem historia. Pus-me a refletir, e sabe do que, penso que isso é tipo coisa que tem necessidade própria, impõem movimento, a contrapelo, por contrapeso, de qualquer que fosse a vontade inconsciente. Mas do que? Pus-me a refletir. As coisas andam inconseqüentes, nada revelam, nada tramam, fábula tranqüila. Tédio iraniano. Percebo que não percebo qualquer leve movimento pra movimentos intranqüilos. E nada está em minhas mãos. Ops.

Mas é que tenho pavor de retrospectivas, filmes se repetindo de um ano pavoroso. Credo! O dia era o elemento pra um texto. O ano, bem o ano guardo-o em um buraco sem fim, desses que não se vê em filmes iranianos pra meu desagrado. E vejam caros leitores, se todo o texto não se tornou confuso, pequeno, mesquinho. Confesso estou um pavor na literatura. Ah, é como tenho sempre dito, meus queridinhos, essa hedionda madrasta, leia-se a literatura, um dia me mata!


PS: É que é justo acabar o ano com a minha última e recente paixão em arte, Henri Cartier Bresson. Pela Genialidade, pelo não uso do flash, pelo charme do preto e branco, e da rigorosa composição de imagem.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Palavra amor


Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda a razão (é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem
remissão de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra.
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na terra.
Não a pronuncie.


[Carlos Drummond de Andrade, "o seu santo nome", em Corpo (1984)].


PS: Mais um pouco de Brensson, pra acabar o ano em P&B.