sábado, 14 de agosto de 2010

Porque é sempre eu e ela.


Às vezes eu me pergunto como duas pessoa tão diferentes podem se identificar tanto
Como gênios tão opostos podem se assemelhar tanto
Por que eu olho pra você e me vejo

Nas covinhas, no jeito de colocar o cabelo atrás da orelha, e de virar a cabeça com timidez e de sorrir de uma forma doce que só nós sabemos como.
Por que eu escuto você e me ouço?

Na sua voz de menininha, a mesma nossa voz no telefone, a mesma firmeza na voz, as mesmas fortes opiniões ditas por mim também são tuas.

Talvez porque só você ature meu mau humor,
Ou talvez porque você veja o meu melhor lado.
Mas, sobretudo, porque não hesita em me sugerir grande (ou pequena) mudança.
Ou será por que superamos juntas nossos problemas, rindo juntas deles.

Rindo muito deles.
Ou porque a gente canta e dança juntas, na maior bobeira.
Porque nós éramos meninas bobas
E agora somos mulheres mais bobas que antes.
Ou porque você me ensina o que quis dizer Quintana
Com "eles passarão e eu passarinho"
Ou porque eu te ensino que deve haver uma taxa de desemprego natural para que não ocorra inflação.
Porque eu escrevo livros e você poesia.
Porque eu faço economia e historia e você letras.
Porque você é tão louca quanto eu e adora isso.

Porque gostamos de gatos, de livros, de Vinícius, do Chico e Dostoievsky.

Porque sabemos que a nossa ligação não é natural é paranormal.

Que eu sou Dinah e você Estela.

Porque eu sou sua luz e você meu céu azul.

O planeta e o gira sol.

E que a nossa ligação é de vidas passadas, uma só desce se a outra descer.

Porque a gente se ama da forma mais verdadeira e sincera que existe.

Porque se brincar eu amo mais ela e ela a mim do que a nossos pais.
Porque não precisa de código morse

Nem telefone

Nem sinal de fogo,

Nossa telepatia basta.

É amor ad infinitum.



PS:Renoir, porque desde sempre foi nós duas.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O gato


Descobri um site muito bonitinho que ajuda gatinhos abandonados a encontrar um lar carinhoso e uma família para amar. E fiquei realmente muito triste quando vi as maldades que as pessoas são capazes de fazer aos animais indefesos e inocentes. Sabe, quando eu era menininha eu tinha um sonho bem grande, e ele era ter um gatinho igual aos da casa da minha avó. Não que eu fosse uma criança sem animais de estimação, isso lá não é uma verdade, minha mãezinha gostava de animais exóticos e digamos ainda não domésticos como jacarés (o Lucrécio), caranguejeiras (Clotilde e Mendonça), cobras e outros fofinhos e mais discretos como tartarugas, cágados, gafanhotos, preá, coelhos. Eu lembro uma vez que a minha mãe tinha uma coleção de soldadinhos, era para um estudo de caso, e eu e meu irmão vivíamos brincando com eles num ambiente tão alegre e cordial que jamais imaginaria viver sem ser dessa forma. Tínhamos dois cachorros bem lindos e felpudos um branco e um preto chamados originalmente de branquinho e neguinho, o engraçado é que eles dois acompanharam a inocência da minha infância. E branquinho ainda me vingou das impertinências de uma prima mais nova e chata mordendo-lhe bem na bunda enquanto eu só fazia rir, toda vez que eu lembro essa história eu sorrio com a ingenuidade com que ri dessa malvadeza (segundo vovó Rosa) feita contra a pobrezinha.

Mas que adiantava ter uma fauna de floresta tropical em casa se eu não tinha um gatinho. Uma vez meu pai trouxe pra casa uma caixa furada, mas eu pulei, eu dancei tanto e fiquei tão feliz que eu ainda hoje posso sentir essa felicidade correr entre meu corpo. Uma caixa furada era indicio de gatinhos (ao menos pra mim). Eu achava que vovó Ivonete tinha mandado um gatinho pra mim. Mas qual nada! Era uma galinha! As crianças nem gostam assim de galinhas, elas são feias, que me desculpem as galinhas, porque não será pela sua sensibilidade que deixarei de ser franca em minha vida. Nem os humanos obtêm essa façanha. Só os gatos! E digo, eu chorei quando eu vi a galinha, senti um amarguinho de decepção.

Daí se seguiu tantos animais em minha vida, criamos até minhoca. Mas o primeiro gato, ah disso eu me recordo bem. Na verdade ele não era um gato bebê, nem brincalhão, nem gostava de fazer estripulias, nem saltava, nem dançava. Ele era um gato homenzinho, segundo minha mãe, ele havia sido muito maltratado. Minha mãe adotou o Natanael, esse era o nome dele, depois que uma vizinha bruxa malvada jogou água fervente nele. Acho que foi a maior maldade feita a um animal quando eu era pequena. Mas, a minha mãe que é muito boazinha tratou de cuidar dele e enche-lo de mimos. Só que Natanael era um gato homenzinho e brabo, e ele nem gostava assim de crianças, por isso minha mãe disse a mim e aos meus irmãos que eu não poderia brincar com ele. Sabe gente, é muito triste ter um gato e não brincar com ele, é muito triste ter um gato e não querer apertá-lo nos seus braços até ele soltar aquele miado bonitinho e indefeso.

Depois ganhamos uma gata tão linda, tão linda, tão impressionantemente linda, que colocamos o nome dela de Sabrina, ah essa era uma gatinha bebê muito fofinha e querida. Depois de um mês descobrimos que a nossa “gatinha” era um gato, e resolvemos chamá-lo de Sabrino depois de termos rido bastante da pequena confusão do pobrezinho.

Depois desses dois primeiros gatos em nossas vidas sucederam-se tantos outros mais, inesquecíveis achados na rua (Monet, Renoir, Mozart), cegos (minha melzinha), Kiki (a melhor mãe do mundo), Pitanga, Açucena, Said, Tom, Cléo, Dora, Vidigal, Bento.

Os gatos deste site Adote são lindos e tem histórias de abandono e agressões. E histórias chocantes como a do gatinho Rock que teve os olhos perfurados e o maxilar quebrados por crianças, e outras como a duquesa que foi amarrada no saco e espancada. Ainda tem gente que adota os gatos e depois coloca na rua, sabia que gato também morre de tristeza causada pela rejeição? Isso é realmente muito cruel! Onde cabe tanta maldade? Como se pode maquinar dessa forma contra alguém? É nessas horas que agradeço a minha família por ter me dado decência e consciência para saber que devo respeitar todos a minha volta, inclusive animais, porque eles também são gente! Acredito sempre nas energias daquilo que a gente espalha. Boas ações, bons sentimentos, boas intenções, bons pensamentos retornam somente em coisas boas. Eu tenho uma gata branquinha e braba feito eu, que só aceita carinho quando ela quer, e que não me pode ver lendo na cama que ela sempre se deita sobre as páginas do livro, só pra chamar minha atenção. Eu tenho um gato grudento que adora carinho e que fica chorando quando a gente não coloca ele no braço e dá beijinho. Eu tenho uma gata dourada que me faz achar que o dia é sempre lindo quando ela se espreguiça. Eu tenho um gato com o fêmur quebrado que dá vontade de apertar no braço como se fosse sagrado, e quando ele tava com saúde ele ia me buscar na parada. Eu amo os meus gatos, cuido deles e eles cuidam de mim.

p.S: O projeto Adote Um Gatinho começou em 2003, com a Susan Yamamoto e a Juliana Bussab, em 2007 virou ONG e hoje possui cerca de 40 voluntários. A Adote acolhe gatos abandonados (muitas vezes, extremamente maltratados!), trata, vacina, castra e os coloca pra adoção. Mais de 3.300 gatos ganharam família através da ONG. WWW.adoteumgatinho.uol.com.br

PS2: Mulher com um gato, 1875, Renoir.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A pitangueira




O Florius às vezes me diz frases únicas de presente. Ele gosta do meu arrebatamento e da minha intranqüilidade. Dia desses disse que o amor era uma verdade efêmera. Ficamos batendo nesse dia um bom papo no banco da praça. Ele falava um tempão sobre as estrelas, o mar e os meus olhos. E o Florius que quase nunca olha pro céu. Ele prefere olhar pro chão. Ver que tudo é sóbrio. Ele olha as pisadas dos fantasmas que não ousaram. E sua música preferida é o mundo é um moinho do Cartola. Nunca esqueço Florius se sujando de algodão doce. Ele não sabe comer algodão doce. Acho que eu era antigamente meio apaixonada por ele e não sabia. Era uma forma de me envolver num olhar tão carinhoso, numa admiração muda de quem se descobre observada e simplesmente sorri vermelha de vergonha. Teve um dia de setembro e já o inverno ingrato tinha ido embora, levei-lhe uma cesta de pitangas que comemos deliciados na sua nova casa dentro de uma frescura verde e cordial, guardamos as sementes para plantar depois no quintal perto do muro. Sabe, deveria ser proibido que os grandes amigos nossos fossem morar tão longe. Eu sinto falta do Florius aqui. E o pé de pitanga anda florido.


PS: Rising Road, 1881 Gustave Caillebotte.