quarta-feira, 28 de maio de 2008


-Interessante! ... Aquela borboleta colorida no meu jardim, que pelo espaço

imenso, incerto, adeja.

Dança, baila, voa.

E não tem nada.

Porque nada deseja

e no entanto, tem tudo.


- Um palco armado.

- Um céu estrelado.


Ela é dançarina e eu, ora, eu a admiro, enfim, sonhando em ser como ela, um dia.



sábado, 10 de maio de 2008

O Maior Amor do Mundo





Ele chorava desesperado, como quem tem medo da solidão, essa solidão que vem da falta de confiança em quem te segura a mão. E chorava com dor por saber tão pequeno faltar-lhe aquele amor, o amor maior do mundo. Cala dor. Emenda. Seca lágrima. Riso se abre. Rio se torna. Enche coração selvagem. Fecunda alma hostil. Habita casa deserta. Êêêêê amor materno.


Para mim, perdão a intervenção da escritora não tão onisciente, assim, a pior dor do mundo é de não ter mãe. Espelho fiel. Pilares da vida. É como perder brilho nos olhos, não, pior. É como ter um brilho triste nos olhos.


Ela, angustiada, jovem, inexperiente no amor de mãe. Queria calar aquele choro convulsivo. Triste. Cortante. Desesperado. Ela sabia o motivo. Mas desejava fazer sarar o dodoi do coração do bebê. Preto na cor, branco de paz no coração. E ela, cheia de bondade e luz só desejava assegurar-lhe que estava tudo bem, que ela era a nova mãe dele, sem o ser, e ele sabia que não o era. Criança sente e sabe coisa que adulto não sabe. E a vontade dela cuidar, acarinhar e vê sossegado aquele bebê foi tão grande que ela tornou-se mãe naquele instante, sem o saber.


No dia seguinte, depois da primeira noite de insônia forçada, ela decidiu-se, diante do medo, e sobretudo da impotência de não tê-lo feito parar o choro triste, devolvê-lo. Pensou que não sabia ser mãe dele. Pensou, talvez, que o sangue falasse mais alto. Pensou antes de tudo, que não tinha talento para ser mãe dele. Não sabia ela que toda mulher já nasce com talento de ser mãe de tudo!


E pensou, enfim, sem saber que já era sim mãe dele. Levou-o a mãe verdadeira. Mas a mãe que supunha ser a falsa, sentiu um peso tão grande no coração, como se lhe expremessem o pobre. Era uma dor, um peso. Uma falta de algo que se vai. Ora, direis, saudade? Era um pedaço pequeno, taquinho preto deixado pra trás. E não dormiu a segunda noite. E chorou, chorou como se lhe tivessem arrancado algo. Importante. Valioso. Sublime. Amor eterno. O maior amor do mundo. E ora, pergunto, arrancaram-lhe um filho? E ela descobriu que sofria como mãe. E amava como mãe. E descobriu-se mãe.


Bem mal raiou o dia, foi buscar o filho de volta. Ele reconheceu a mãe. Ela reconheceu o filho. E outras tantas noites de insônia forçada vieram no primeiro, no segundo e no terceiro filho.



À minha mãe,

Ela me deixa voar com as aves, mas ainda me vê menina adormecida no fundo de seus olhos.

quarta-feira, 7 de maio de 2008



Quero falar de saudades. Estranho desejo pulsante.
Inapropriado, ora, direis, forte, mas silenciado.
Grito histérico.
Pavor e êxtase. Saudade que fisga louca, falta do que existiu.
Marca eterna, lembrança. Cicatriz. Sentido, tatuagem.
Aperto no peito, asas que batem forte, livres vôos pelo mundo. Esquecer-me do resto. Posso? Devo?
E o caminho, trilha só! O meu não. O resto... O resto, tempo incerto. Quero. Vibro. Marco. Guardo. Embalo. Coloro de todos os bons fluidos. Preenche-me um acalanto, marca de giz. Preencheu-me de ti no instante já. E até que a ti veja novamente.
Deus te guarde na palma da mão.



Aos amigos que tive o prazer de rever nas esquinas do meu caminho torto, esta semana.


Quanto a saudade, outono e renascer

o que fica, é o gosto da poesia revelado.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A criação do homem (1511), de Michelangelo, Capela Sistina Vaticano. Essa cena, sem dúvida expressa a inigualável genialidade do artista, representando a criação do homem. Na obra tanto Deus quanto Adão, representa o magnífico e harmonioso ideal de beleza no renascimento.


Olhando essa pintura num livro de artes, dia desses, veio-me a sempre questionável dúvida da existência de Deus. Digo dúvida, porque há momentos em que acredito fielmente na sua existência e me ponho a questionar a sua não existência, diante de tanta perfeição.


Ainda essa semana, ganhei de um amigo uma orquídea amarela, a minha preferida, por ser assim tão alegre e singela, encanta-me. Pela manhã ela abre insinuando sua delicadeza e perfeição, e a noite, pra descansar, ela se fecha em botãozinho amuado, pra poder no outro dia renovar-se em esplendor, e eu admira-la extasiada. E me pergunto, é assim, tão bela sem ter motivos para sê-lo? Questiono o mistério por trás de tanta beleza, não só da orquídea, mas, sobretudo da vida. Então eu penso em Deus, e duvido da sua não existência.



Vivo então, a me consolar, respondendo a mim mesma que eu não creio porque não posso ver, é a dúvida que margeia uma criatura tão subserviente à razão. A sombra vê apenas o corpo que a projeta, mas nunca a luz que lhe dá vida.