sábado, 17 de julho de 2010

Recado da primavera


Vadiava um vento meio arredio nessa tarde. Soa sempre engraçado dizer que sai pra comprar chá. Mas era uma tarde até azul. Azul anil. Quase se fez chuva hoje fez. Queria chá de maça verde. E não encontrei. Mas qualquer chá valia a intenção de sair pra prosear na rua. Já não era tarde calma, tranqüila e mítica. Era tarde de férias, inverno chegou e primavera lhe mandou recado de amor. Sossega que dias mais te venho encobrir de amor. A o velho amor bossa-nova chegou. Nessa tarde eu fui comprar chá e se não me recordo, nunca vi tantas crianças de uma vez só na minha ensolarada rua. Uma bola voava por quase entre minhas pernas e se não caí me arrancou um sorriso feliz. Mães e filhos fortes. Flores por todos os jardins. O jasmineiro não floriu. É saudade das conversas dos passarinhos. E por falar em carambolas. Eu gosto de carambola estrela. A moça da padaria não sorriu como já não é novidade. Mas o pão doce continua delicioso. E o queijo estava salgado. Os sapos da rua de baixo coaxavam. Fez-se noite na minha rua. Saem as crianças, entram as estrelas e lua. Não encontrei chá de maça verde. Nem de erva cidreira. Se encontrei, não por brincadeira, foram coisinhas miúdas no meio do caminho, essa eu achei e não procurei. Até gostei das pequenices do cotidiano que em vez de guardar no bolso, a gente leva no coração. Hoje a tarde teve gosto de almoço de domingo. E alegria de festa. E sorriso de criança. E chuva fininha. E foi tudo em um mês de julho.


PS: Da exposição "O Mundo Mágico de Marc Chagall". A Águia e a Coruja.

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