sexta-feira, 8 de outubro de 2010


Encontrei essa semana uma amiga de minha mãe de longa data. Ela de primeira não me reconheceu, os cabelos mais longos, o rosto corado, ou talvez os braços mais roliços que os da minha meninice, a imagem que ela guardava de mim, não indicaram a ela quem eu era inicialmente. Mas por fim, olhando o sorriso de covinhas ela reconheceu. Ela é vizinha de uma ex-grande amiga minha. Se você me perguntar como as grandes amigas deixam de ser grandes amigas eu nunca vou saber responder. Porque entre nós nunca houve brigas, nem desentendimentos ou quiçá discordâncias. Éramos muito amigas. Sabe éramos eu e ela e ela e eu.

Nunca me diverti tanto com uma amiga como nos nossos recreios do colégio. Riamos pelas menores bobagens, riamos de felicidade mesmo. Pensando bem, naquela época não tínhamos problemas algum e vivíamos numa doce e simpática boêmia de menina. Vivíamos escutando música boa, lendo romances brasileiros, recitando versos do camões ou então, o que era mais divertido, comentando com veia humorística, digo, com bastante veia humorística gentes e costumes da nossa cidade. Éramos impar em imitações, ninguém imitava o Alex tão bem como eu, e ninguém imitava a Raquel como ela. Eu e ela nunca fomos desses gênios dado à apreensões e vivíamos muito tranquilinhas.

Nunca me ocasionou a idéia de que os grandes amigos deixam de ser grandes quando nos deparamos com as searas da vida. Parece triste pensar que a distância, os caminhos, os amores, desamores e dissabores sempre nos levam a trajetos diferentes. Eu e ela sempre moramos nos mesmo lugares, tivemos os mesmos amigos, os mesmos sonhos. Éramos atrevidinhas, alegres e tínhamos uma forma muitíssimo parecida de encarar a vida. Mas sem saber por que nos separamos. Romperam-se os laços e na memória restou só a lembrança dentro de uma frescura verde e cordial.

Escrevo lembrando o dia em que fugimos da condução e ganhamos o mundo. Acho que tínhamos quatro anos de idade. Lembro de correr o mais rápido que pude abraçando a liberdade, desejando asas na inocência de Ícaro. Parecia aventura de caráter novelesco até uma bruxa má chamada tia Fátima nos agarrar com suas mãos de unhas vermelhas marcando com ferocidade nossos bracinhos de porcelana magra. Eu agora penso que deve ser por causa das unhas vermelhas de tia Fátima que nunca gostei de pintar as minhas com essa cor.

Sabe minha querida, eu nunca te disse isso, mas eu sinto muito a sua falta. Se eu pudesse voltar no tempo e reviver as coisas mais uma vez, eu tinha me lembrado de construir uma ponte de minha casa a sua para nunca esquecer o caminho que nos uniu. E de não desmarcar aquele dia em que marcamos de tomar um café. Foi há quanto tempo mesmo? Um ano? Não, acho que foi há dois anos. Me dói a evidencia de saber que não mais voltarei a viver essa amizade, são as distancias da vida. E isso é normal, é só que eu estou lamentosa. Eu queria poder te abraçar e te dizer palavras de muita força que talvez eu mesma não tenha. Mas esse era o meu desejo.

Soube pela amiga da minha mãe que a tua mãe se foi. Sabe querida, eu nunca te disse, mas eu sempre acho que as mães não deveriam morrer nunca. A vida fica meio como rua sem poste de luz. Eu acho que as mães não conhecem o brilho triste que deixam nos olhos dos filhos quando partem. E esse brilho triste dói. Sempre em mim causa um aperto no coração.

Eu queria minha querida segurar a tua mão, dar um abraço bem apertado e um sorriso dentro do silêncio desse momento. E se a distancia me impede deixo-te essa carta e um pedido de desculpas por não estar contigo nesse momento.

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