domingo, 14 de dezembro de 2008

O mundo cata vento e outras coisas


Qualquer coisa muito agradável vem acontecendo e se harmonizando apreciavelmente aos meus quereres. E se escrevo hoje aqui é pela necessidade de traduzir em palavras os sentimentos. Os sentidos. Tidos como todos.


Hoje tenho a maravilhosa e encantadora liberdade de quem se curou da dolorosa sensação de estar desperdiçando a vida. Desde a minha descoberta do voluntarismo existencialista – Sobretudo Sartre e Beauvoir – compreendi o poder das escolhas, e mais ainda, descobri a certeza de que eu posso ser exatamente tudo o que eu quiser. E mais ainda, eu posso querer o mundo. Eu posso tê-lo. Eu posso desbrava-lo. Posso coloniza-lo. Posso descobrir. E colorir. Poder ser o que eu quiser só depende de mim, e do quanto estiver interessada nisso, porque agora eu sei que o mundo todo conspira para que aconteça, e eu só preciso desejar profundo.


Hoje, no meu quarto, a janela aberta deixava entrar um vento carinhoso e eu senti um abraço terno. Eu não tenho mais medo do mundo. E olhando pra trás, não com olhos de tristes de saudades, mas com olhos extasiados. Em um ano eu havia conquistado o mundo. O mundo que eu quis. O mundo que eu amava. Eu fiz tudo, exatamente o que eu desejei fazer. Eu quis ser estrela do abismo no espaço. Eu fui. E cantei de mansinho; oi nós aqui, oi nós aqui/ Hollywood fica ali bem perto/ Só não vê quem tem um olho aberto.


Eu escrevi. Escrevi. Escrevi. Escrevi a minha vida em palavras muito claras, singelas, ternas e simples. Eu fui atriz. Fui menina e mulher. Fui louca e egoísta. Fiz arte. Subversiva arte. Fiz peça. E continuei a escrever a minha vida como quem se rebela e tem o poder de tomar a pena do escritor da vida e escrever os seus anseios, todos. Eu quis ter um jeito de quem pisa em lua e não em pedras, escrevi oras. E andar como se caísse de mim pozinhos de candura, eu também escrevi isso.


Eu conquistei o mundo. O mundo que eu quis. E ganhei Doistoievsky’s. E ganhei amigos, novos amigos, queridos amigos, tantas mãos juntas ao meu redor, que junto tudo e faço um cachecol. Reconquistei antigos amigos, amei amigos. Solidifiquei amizades. Amei amigos. Construí pontes para o coração dos outros com sorrisos. Tudo isso eu escrevi. Apaixonei-me perdidamente, tantas vezes que nem conto. E me desapaixonei quando me encontrei.


Eu aprendi a não deixar cair uma gota de vida sem que ela fosse saciada de todas as maneiras. Eu descobri que eu vive em um ano, dez anos em que eu não vivi, tal foi a ânsia de viver tudo de todas as formas e jeitos e gestos. E agora, no fim do ano, fazendo o velho balanço, sentindo o vento que entra buliçoso pelo meu quarto, eu descobri que eu sou o mundo que eu quis.



PS: Portinari

Nenhum comentário: