segunda-feira, 11 de maio de 2009

Bonança, Maio de 2008







Nino,





O carteiro hoje chegou cedo trazendo tua carta...

Eu estava ainda deitada, cansada de mim mesma. Meu coração tá cinza nino. É uma tristeza estranha que às vezes me acomete assim, de repente. A vida está tomando proporções de sonhos desfeitos... e eu nem sei porque...

Acordei com a sensação de ressaca. O dia estava de ressaca, meu bem.

Quando escutei o cachorro latir, sai pra pegar a tua carta...

Olha nino, eu cheirei tua carta com devoção, como se nela contivesse qualquer perfume daqueles dias...

Tinha cheiro de sol e brisa leve.

Cheiro de felicidade...

Espiei o vento forte que fazia e aconcheguei tua carta nos meus seios pra que ele não roubasse o teu cheiro de mim.

A minha rua estava como sempre poética.

A vizinha aguava as suas roseiras.

Enquanto seu Brito passeava com os cachorros assoviando o bolero de Gardel.

A minha vizinhança é assim tão bela quanto às roseiras de Rita.

Corri para ler a sua carta, mais parei...

Não queria lê-la com avidez, como escutar musica sem senti-las. Por que é preciso sentir, nino, sentir tudo e de todas as maneiras possíveis.

Inventei obstáculos...

Pra evitar que você chegasse e me abandonasse tão rápido...

Fiz o café e misturei ao leite...

Voltei a cama, porque te desejei nela a noite toda...

Estávamos então só eu e tu.

Num aconchego de marido.

Abri o envelope e desdobrei a carta...

Mas não a li,

Antes passeei meus olhos por entre as tuas linhas perfeitas, tuas letras simétricas.

Li o teu inicio, e imaginei você me chamando de meu bem, como só você sabe falar...

Evitei te ter por inteiro, e parei, pra respirar e sentir você me chamar de meu bem...

Juro que escutei você da cozinha me chamando.

Pensei ser você, é um costume bem bobo, esse meu de escutar tu me chamar as vezes, no meio da minha solidão de poeta...

Voltei a ler-te com demência...

Chorei lágrimas indispostas...

Penso que por mais que as saudades sejam tamanhas, e ainda que sejam de fato, é bom que você tenha em mente e no coração o seguinte: eu, Laura, sou a sua menina viu...

Ninguém além de você, me tem com tanta certeza e devoção.

E peço-te que agüente as distancias, que não são poucas, mas meu bem bem querido é para o nosso bem ser construído.

A nossa casinha em Marambaia, a nossa viagem de mochila, o curso de fotografia e nossas marias...

Vê meu bem bem querido, somos amados pelas letras das nossas poesias, que bem há melhor nisso?

Que forma mais saudável de vivermos essa saudade...

E quando eu velhinha mostrar aos netos do nosso amor tuas cartas, haverão de dizer: que paixão imenso o dos nossos avós...

Paixão de outra vida né nino?

Tudo caminha hoje claro nino aqui.

E branco também...

Mas tem chovido tanto.

Ontem havia um rapaz na calçada da nossa rua tocando violão e um outro cantando a nossa música,,,

A valsa brasileira...

Preciso de você aqui pra mostrar as coisas belas que eu vejo.



Encerro aqui o nosso colóquio amoroso, aninhando-me às tuas palavras afagos.

Hoje é frio nino, mas amanhã melhora. Que as reticências te transmitam tudo o que não traduzi em palavras.




Estou em você

Tua Laura.


4 comentários:

Anônimo disse...

Sabe, querida Laura,
Quando leio coisas tão belas como esta, penso o quanto a poesia é profundamente encantadora...
É impressionante como lembranças simples, momentos corriqueiros... podem ser profundamente eternizados por meio de palavras tão doces como estas!
Parabéns!!!

Laura disse...

Neide quem escreveu bonito foi ti!
Adorei!!!
E se possivel volte sempre aqui, as portas estarão sempre abertas.

Cleyton Cabral disse...

Nossa, que bonito. Que bonito!

Luna Freire disse...

Lindo, Laura!!! Estas são palavras que beijam...