Quando uma avozinha dorme para sempre, ela não trás mais copinho de água, não faz a comida que a gente gosta, não liga mais perguntando onde estamos, e não adianta mais se acordar dia de domingo de seis horas da manhã pra levar ela pra igreja. Porque quando uma avozinha dorme para sempre, ela fica somente nas coisinhas que nos rodeiam... Nessas coisinhas pequenas que a gente nunca se dá conta que quando falta faz uma falta danada. No começo a gente nem percebe, porque o nosso mundinho perde todo o equilíbrio, e a nossa vida fica toda bagunçada. Nos primeiros dias, a gente só percebe que perdeu, pela falta que faz, pelo brilho triste nos olhos do papagaio Lilico, na velha cadeira de balanço vazia, nas lágrimas que a gente derrama. Mas aos pouquinhos, quando a dor vai passando e a gente começa a encontrar na esquina da rua a alegria, aí sim a gente começa a perceber que a avozinha que se foi ainda está com a gente, está nas posições dos móveis, numa velha xícara de café forte, numa caixa de batom que a gente encontra escondida no armário, numa pessoa de coração puro, nas nuvens no céu... Aí a gente percebe que a avozinha vai acompanhar a gente a vida toda, porque a avozinha é ainda uma parte da gente, porque ela nos moldou em suas mãos delicadas. Chora betinha, que hoje a dorzinha ainda te aperta o coração, porque ela ainda não quer ir embora, mas um dia ela vai querer. E tu vai só sorrir...
PS: Lasar Segall, Mãe morta, 1940.
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