Meus caros, defendo-me sempre. Queria eu ter cego meus olhos para que os olhos de Helano não me envolvessem nessa prosaica insanidade. Quisera eu ter os lábio cortados para não te sentir a volúpia dos beijos teus. Larga de mim Helano! Desejo-te não menos que a morte cruel! Rezo para murchar-lhe toda a fremente vida.
Eu vos digo, Helano foi o meu elo com o inferno. A minha perdição. Será a de quem mais amar Helano. Não se ama Helano, se venera, e essa veneração é quase um vício incurável. Basta! Não continuem lendo as minhas mémorias, essas que de tão desprezivel e ignóbil deveriam ser lançadas a mais merecida indiferença, serem queimadas ou lançadas ao lixo. Pouco importam-me, só não desejaria que caissem em tuas mãos, leitor fiel.
Silêncio. Deixe as mémorias minhas quietas antes que teu coração cerre-se de inquietude... Eu não pude fugir a Helano... Não pude eu fugir à sua carne, nem a sua memória, Helano está em mim. Nada permanece na paz do bem. Helano não sai de mim... Nada permanece em mim, só Helano. Só eu, louca e insana, permaneço parada dentro de um tempo...
Gaiola é para pássaro que perde a sua essência: o vôo.
E o tempo vai passado, passando, passando...
PS: Uma das mais belas esculturas de Camille Claudel, Sakountala (o abandono). Camille foi a aluna mais talentosa de Rodin, e essa escultura, a sua primeira dramática, foi inspirada, segundo a sua biografia, numa traição de Rodin. É uma cena terna entre dois amantes, em que o marido pede perdão a esposa por seu abandono e esquecimento. Rodin abandona Camille louca de amor anos depois dessa escultura ficar pronta.
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