A morte nunca é feliz
Mas pode ser romântica...
Se eu pudesse escolher como morrer,
Estaria sentada numa cadeira de balanço,
Sob um pequeno. Gracioso. Florido.
Pé de jasmim laranja.
O meu velho pé poesia...
Ao lado, sobre uma mesinha.
Um vaso. Lírios amarelos.
Uma xícara de café.
Por companhia, um sonho de creme.
É obrigatório, um fiel Dostoievski no regaço.
Qualquer um...
E o céu desse dia seria azul.
Azul. Bem azul.
Pitalgado de núvens branquinhas.
Núvens que parecem sonhos.
Ah e a música!
Toda a morte tem uma música.
Como uma hístoria de amor.
Sempre tem uma canção...
O Lago do Cisne.
E de repente,
Como se eu fosse tomada por um pesado sono.
Cançaso de viver.
Os olhos antes tão vivos, fecham-se.
Como as cortinas de uma grandiosa peça.
Hamlet.
No final do último ato.
E a brisa suave que bate no rosto...
Farfalhar de folhas,
são os aplausos da vida...
E a luz do dia, deu lugar a uma penumbra violácea.
É o último adeus.
Fecham-se os olhos.
Finda-se a vida.
E eu aqui, pensando, com o meu Dostoievski no regaço...
Ps: Esta tela chama-se "a moça com livro" é uma pintura impressionista (amo!) do brasileiro Almeida Júnior (1850-1899). No panorama da pintura nacional, Almeida Junior aparece como autêntico prercursor. Os personagens do pintor são de carne e osso, que o proprio Almeida conhecia pessoalmente, gente que tinha nome, vivia, amava. Em "a moça com livro" ele retrata Laura, a mulher que tanto amava e por quem morreu esfaqueado, pelo marido desta. Laura inspira quase todas as suas figuras femininas... E que delicadeza! Que doçura!
Um comentário:
cadeira de balanço, xícara de café, flores, nuvens, sonhos...sonhos de creme (poderiam ser sonhos de açúcar mascavo...):
"foi poeta, sonhou e amou na vida".
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