quarta-feira, 18 de junho de 2008


A morte nunca é feliz

Mas pode ser romântica...

Se eu pudesse escolher como morrer,

Estaria sentada numa cadeira de balanço,

Sob um pequeno. Gracioso. Florido.

Pé de jasmim laranja.

O meu velho pé poesia...

Ao lado, sobre uma mesinha.

Um vaso. Lírios amarelos.

Uma xícara de café.

Por companhia, um sonho de creme.

É obrigatório, um fiel Dostoievski no regaço.

Qualquer um...

E o céu desse dia seria azul.

Azul. Bem azul.

Pitalgado de núvens branquinhas.

Núvens que parecem sonhos.

Ah e a música!

Toda a morte tem uma música.

Como uma hístoria de amor.

Sempre tem uma canção...

O Lago do Cisne.

E de repente,

Como se eu fosse tomada por um pesado sono.

Cançaso de viver.

Os olhos antes tão vivos, fecham-se.

Como as cortinas de uma grandiosa peça.

Hamlet.

No final do último ato.

E a brisa suave que bate no rosto...

Farfalhar de folhas,

são os aplausos da vida...

E a luz do dia, deu lugar a uma penumbra violácea.

É o último adeus.

Fecham-se os olhos.

Finda-se a vida.

E eu aqui, pensando, com o meu Dostoievski no regaço...




Ps: Esta tela chama-se "a moça com livro" é uma pintura impressionista (amo!) do brasileiro Almeida Júnior (1850-1899). No panorama da pintura nacional, Almeida Junior aparece como autêntico prercursor. Os personagens do pintor são de carne e osso, que o proprio Almeida conhecia pessoalmente, gente que tinha nome, vivia, amava. Em "a moça com livro" ele retrata Laura, a mulher que tanto amava e por quem morreu esfaqueado, pelo marido desta. Laura inspira quase todas as suas figuras femininas... E que delicadeza! Que doçura!

Um comentário:

Anônimo disse...

cadeira de balanço, xícara de café, flores, nuvens, sonhos...sonhos de creme (poderiam ser sonhos de açúcar mascavo...):

"foi poeta, sonhou e amou na vida".