Cinco dias eram a quantidade de dias que ele precisaria dormir fora de seu lar comum, não que sua casa fosse ser dedetizada, ou que precisasse de uma reforma, nem que o bujão de gás estivesse explodido assim, sem nem pra quê. Nada Disso, Helano era desses espíritos aventureiros, despreocupados e completamente livres de qualquer impressão subjugadora. O nosso Helano era um cara legal. Costumavam dizer que o Helano morreria jovem, todos no colégio, depois na universidade, a verdade é que o Helano ainda não morreu, mas também, para os padrões de nossa sociedade caquética, ele ainda é um jovem. Provavelmente, segundo a previsão, Helano morrerá a qualquer dia. Não, Helano não possui nenhuma doença infecto-contagiosa, nem um vírus mortal, nem nenhum tumor. Helano possuía vigor, uma energia contagiante, uma liberdade fremente... Na verdade Helano possui asas, irremediavelmente ousadas e volúveis. Deve ser bacana ter esse espírito leve como o dele. Mas enfim, Helano se propôs a viver uma semana nômade. Bem a seu gosto e a seu propósito. Há prazeres indiscutíveis nessas loucuras simples, é quase como usar um vestido rodado e só pra vê-lo girar a gente brinca de rodar feito peão.
Essa semana nômade do Helano foi assim, pensada do nada, como quase tudo que suscita numa grande aventura. Esse rapaz cheio de vida inventou de dormir cada noite da semana na casa de um amigo diferente. E sei lá, nessas noites inusitadas só aconteceram coisas simples, coisas não inusitadas. Um café amargo, um cachorro que lambe tua mão, um gato que sem ser convidado sobe no seu colo só pra ser acarinhado, fotografias velhas guardadas em baús coloridos. Todas essas pequenas coisinhas Helano reparou e tratou de vivê-las como suas grandes aventuras inimagináveis. Estava sempre na casa de seus amigos queridos, de móveis seus conhecidos, de bicho de estimação estimado dele, mas sei lá, o Helano não saboreava a sua essência. O gosto que havia nas pequenas coisas das casas de seus amigos, seus grandes amigos. Helano desejou uma grande aventura, mas se deparou com grandes sentimentos na sua semana nômade.
PS: O impagável Kandinsky, o pintor do abstrato, com the blue mountain.
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