sábado, 9 de janeiro de 2010

A visita de Nino













Era dia de natal. E ele chegou com um sorriso tímido e mãos trêmulas, ela ria dele por tentar disfarçar seu nervosismo de menino pra ela, logo pra ela, que era tão dele, que o lia como a um livro aberto.


Olharam-se quase por um minuto. Até seus corpos se exigirem em forte e longo abraço. Abraço este que a distância tratou de manter quase abraço. E foi um abraço de suspiros doces e alívios ternos. Era o encontro de corpos que falavam ao toque.


Sentaram assim, um bem próximo ao outro, quase colados no abraço sem fim, o corpo dela ao dele. Ela olhou seus olhos, sua linda iris, portal para os seus óculos fantasiosos que a faz olhá-lo por dentro. Estava feliz como ela. Tinham olhos e coração e sede de ternura, eram um homem e uma mulher que sabiam se entender sem palavras, só o silêncio bastava entre eles.


Nino sentia aquela vontade indizível de lhe falar docemente coisas que só ela entende. De contar suas aventurazinhas com meandros de ternura para que ela não se zangasse, porque ele conhecia a sua Laura, e basta lhe dar razão para que ela faça uma guerra. Ele gostava disso nela! Sentia saudades de seus rompantes de raiva. De seus ódios. De seu andar ligeiro, e do seu exagero. Das covinhas e do som de seu sorriso. E gostava de seus olhos expressivos. E de sua franqueza insensível. Também do seu humor sarcástico. Ria do seu perfeccionismo perfeito. E de sua busca pela simetria dos móveis sobre os espaços dos azulejos. E de sua multifuncionalidade. Queria falar tudo isso a ela, mas a sua Laura falava em 36 rotações e gostava tanto disso que só a interrompia quando desejava roubar-lhe um beijo. O nino sentia tantas saudades daqueles seus beijos criativos!


No balanço do jardim, sob a figueira prateada depois que o sol saiu, estavam eles regados a muito chá de limão, servidos no conjuntinho de porcelana que ela guardava pra dias especiais. Conversaram muito terna e apaixonadamente, desejando suprir a fome dos meses que passaram um longe do outro, no silencio do toque. Bateram a ave Maria, acabou-se o dia, a noite já era vazia. E o céu assumiu um novo colorido, de belíssimas matizes e tons comoventes.


No fim da noite tinham por ceia a lasanha maravilhosa da Laura (Porque ela havia inventado aquela receita e o molho especial). Depois uma salada de manga e alface. E por fim um delicioso mousse de limão que o Nino ajudou a fazer. Tudo isso assistindo musicais antigos. Que o Nino adorava.


Diria que o Nino nunca quis uma pessoa tão próxima a ele quanto a sua Laura. Às vezes ele queria ir correndo a casa dela, bater na porta, surpreendê-la ainda na cama, com o rosto amassado pelo travesseiro, ranzinza a não caber em si, com aquele seu velho pijama azul com os fundos costurados de linha branca... E ele riria dela. E ela brigava com ele. Mas depois de um cafezinho, o bom humor reinaria. Mas havia tanta distancia, tantos quilômetros entre eles... Isso só eram devaneios...


Engraçado, mas naquela noite de natal Nino disse algo a sua Laura que lhe arrancou lágrimas, disse que ela lhe completava de forma a não sobrar nenhuma brechinha. Era uma coisinha boba, é verdade, mas era uma forma de reafirmar todo aquele imenso amor do inicio e que a distancia não era em verdade nenhum empecilho. E que ele amava tanto a sua Laura... Era pena ela nunca acreditar e achar que ele estivesse sempre brincando.


PS: O beijo, de Maksi Movych; O beijo, Toulouse Lautrec; O beijo, escultura de Constantin Brancusi; O beijo, escultura de Rodin; O beijo, de Picasso; O beijo, de Edward Munch; O beijo, de Klimt; O beijo, de Roy Lichtestein; O beijo, de Henri Cartier Brensson; O beijo, de Francesco Hayez.

3 comentários:

Anônimo disse...

Poxa, Laura precisa acreditar no sentimento das pessoas as vezes,sabe. Faz bem.

Ta disse...

Ela sabia da existência do amor, mas tinha medo de acreditar.

Laís disse...

O texto é lindo, não sei porque mas essa imagem eu conheço... ;)

e eu também acho que ela sabe, mas tem medo de acreditar...