Nino,
O carteiro hoje chegou cedo trazendo tua carta...
Eu estava ainda deitada, cansada de mim mesma. Meu coração tá cinza nino. É uma tristeza estranha que às vezes me acomete assim, de repente. A vida está tomando proporções de sonhos desfeitos... e eu nem sei porque...
Acordei com a sensação de ressaca. O dia estava de ressaca, meu bem.
Quando escutei o cachorro latir, sai pra pegar a tua carta...
Olha nino, eu cheirei tua carta com devoção, como se nela contivesse qualquer perfume daqueles dias...
Tinha cheiro de sol e brisa leve.
Cheiro de felicidade...
Espiei o vento forte que fazia e aconcheguei tua carta nos meus seios pra que ele não roubasse o teu cheiro de mim.
A minha rua estava como sempre poética.
A vizinha aguava as suas roseiras.
Enquanto seu Brito passeava com os cachorros assoviando o bolero de Gardel.
A minha vizinhança é assim tão bela quanto às roseiras de Rita.
Corri para ler a sua carta, mais parei...
Não queria lê-la com avidez, como escutar musica sem senti-las. Por que é preciso sentir, nino, sentir tudo e de todas as maneiras possíveis.
Inventei obstáculos...
Pra evitar que você chegasse e me abandonasse tão rápido...
Fiz o café e misturei ao leite...
Voltei a cama, porque te desejei nela a noite toda...
Estávamos então só eu e tu.
Num aconchego de marido.
Abri o envelope e desdobrei a carta...
Mas não a li,
Antes passeei meus olhos por entre as tuas linhas perfeitas, tuas letras simétricas.
Li o teu inicio, e imaginei você me chamando de meu bem, como só você sabe falar...
Evitei te ter por inteiro, e parei, pra respirar e sentir você me chamar de meu bem...
Juro que escutei você da cozinha me chamando.
Pensei ser você, é um costume bem bobo, esse meu de escutar tu me chamar as vezes, no meio da minha solidão de poeta...
Voltei a ler-te com demência...
Chorei lágrimas indispostas...
Penso que por mais que as saudades sejam tamanhas, e ainda que sejam de fato, é bom que você tenha em mente e no coração o seguinte: eu, Laura, sou a sua menina viu...
Ninguém além de você, me tem com tanta certeza e devoção.
E peço-te que agüente as distancias, que não são poucas, mas meu bem bem querido é para o nosso bem ser construído.
A nossa casinha em Marambaia, a nossa viagem de mochila, o curso de fotografia e nossas marias...
Vê meu bem bem querido, somos amados pelas letras das nossas poesias, que bem há melhor nisso?
Que forma mais saudável de vivermos essa saudade...
E quando eu velhinha mostrar aos netos do nosso amor tuas cartas, haverão de dizer: que paixão imenso o dos nossos avós...
Paixão de outra vida né nino?
Tudo caminha hoje claro nino aqui.
E branco também...
Mas tem chovido tanto.
Ontem havia um rapaz na calçada da nossa rua tocando violão e um outro cantando a nossa música,,,
A valsa brasileira...
Preciso de você aqui pra mostrar as coisas belas que eu vejo.
Encerro aqui o nosso colóquio amoroso, aninhando-me às tuas palavras afagos.
Hoje é frio nino, mas amanhã melhora. Que as reticências te transmitam tudo o que não traduzi em palavras.
Estou em você
Tua Laura.
4 comentários:
Sabe, querida Laura,
Quando leio coisas tão belas como esta, penso o quanto a poesia é profundamente encantadora...
É impressionante como lembranças simples, momentos corriqueiros... podem ser profundamente eternizados por meio de palavras tão doces como estas!
Parabéns!!!
Neide quem escreveu bonito foi ti!
Adorei!!!
E se possivel volte sempre aqui, as portas estarão sempre abertas.
Nossa, que bonito. Que bonito!
Lindo, Laura!!! Estas são palavras que beijam...
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