sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A pitangueira




O Florius às vezes me diz frases únicas de presente. Ele gosta do meu arrebatamento e da minha intranqüilidade. Dia desses disse que o amor era uma verdade efêmera. Ficamos batendo nesse dia um bom papo no banco da praça. Ele falava um tempão sobre as estrelas, o mar e os meus olhos. E o Florius que quase nunca olha pro céu. Ele prefere olhar pro chão. Ver que tudo é sóbrio. Ele olha as pisadas dos fantasmas que não ousaram. E sua música preferida é o mundo é um moinho do Cartola. Nunca esqueço Florius se sujando de algodão doce. Ele não sabe comer algodão doce. Acho que eu era antigamente meio apaixonada por ele e não sabia. Era uma forma de me envolver num olhar tão carinhoso, numa admiração muda de quem se descobre observada e simplesmente sorri vermelha de vergonha. Teve um dia de setembro e já o inverno ingrato tinha ido embora, levei-lhe uma cesta de pitangas que comemos deliciados na sua nova casa dentro de uma frescura verde e cordial, guardamos as sementes para plantar depois no quintal perto do muro. Sabe, deveria ser proibido que os grandes amigos nossos fossem morar tão longe. Eu sinto falta do Florius aqui. E o pé de pitanga anda florido.


PS: Rising Road, 1881 Gustave Caillebotte.

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